SALMO 𝟡𝟜

Bem-aventurado é o homem a quem tu repreendes, ó Senhor, e a quem ensinas a tua lei,

para lhe dares descanso dos dias da adversidade, até que se abra uma cova para o ímpio.





ORAÇÃO ⁜ SALMO DA BÍBLIA № 94


§ 94:1  Ơ Ó Senhor, Deus da vingança, ó Deus da vingança, resplandece!

§ 94:2  Exalta-te, ó juiz da terra! dá aos soberbos o que merecem.

§ 94:3  Até quando os ímpios, Senhor, até quando os ímpios exultarão?

§ 94:4  Até quando falarão, dizendo coisas arrogantes, e se gloriarão todos os que praticam a iniqüidade?

§ 94:5  Esmagam o teu povo, ó Senhor, e afligem a tua herança.

§ 94:6  ɱ Matam a viúva e o estrangeiro, e tiram a vida ao órfão.

§ 94:7  E dizem: O Senhor não vê; o Deus de Jacó não o percebe.

§ 94:8  Atendei, ó néscios, dentre o povo; e vós, insensatos, quando haveis de ser sábios?

§ 94:9  Aquele que fez ouvido, não ouvirá? ou aquele que formou o olho, não verá?

§ 94:10  Porventura aquele que disciplina as nações, não corrigirá? Aquele que instrui o homem no conhecimento,

§ 94:11  o Senhor, conhece os pensamentos do homem, que são vaidade.

§ 94:12  Bem-aventurado é o homem a quem tu repreendes, ó Senhor, e a quem ensinas a tua lei,

§ 94:13  para lhe dares descanso dos dias da adversidade, até que se abra uma cova para o ímpio.

§ 94:14  Pois o Senhor não rejeitará o seu povo, nem desamparará a sua herança.

§ 94:15  ɱ Mas o juízo voltará a ser feito com justiça, e hão de segui-lo todos os retos de coração.

§ 94:16  Quem se levantará por mim contra os malfeitores? quem se porá ao meu lado contra os que praticam a iniqüidade?

§ 94:17  Se o Senhor não tivesse sido o meu auxílio, já a minha alma estaria habitando no lugar do silêncio.

§ 94:18  Quando eu disse: O meu pé resvala; a tua benignidade, Senhor, me susteve.

§ 94:19  Quando os cuidados do meu coração se multiplicam, as tuas consolações recreiam a minha alma.

§ 94:20  Pode acaso associar-se contigo o trono de iniqüidade, que forja o mal tendo a lei por pretexto?

§ 94:21  Acorrem em tropel contra a vida do justo, e condenam o sangue inocente.

§ 94:22  ɱ Mas o Senhor tem sido o meu alto retiro, e o meu Deus a rocha do meu alto retiro, e o meu Deus a rocha do meu refúgio.

§ 94:23  Ele fará recair sobre eles a sua própria iniqüidade, e os destruirá na sua própria malícia; o Senhor nosso Deus os destruirá.


O SALMO 94


SERMÃO 💬

§ 1
1 Preferia, irmãos, que ouvíssemos nosso pai falar; mas é bom igualmente obedecer-lhe. Uma vez que ele nô-lo ordenou, dignando-se rezar por nós, falaremos a V. Caridade tudo o que o Senhor nosso Deus se dignar nos conceder. O salmo tem por título:

Cântico de louvor. De Davi. Cântico de louvor” refere-se à alegria, porque é um canto, e à devoção, porque é louvor. Que deve o homem louvar melhor do que aquele que tanto lhe apraz que de forma alguma lhe desagrade? Há, pois, inteira segurança em louvar a Deus. Quem louva sente-se seguro quando não precisa recear ter de se envergonhar daquele que ele louva. Louvemos, portanto, cantemos, isto é, com gáudio e com alegria louvemos. O próprio salmo, nos ver-sículos seguintes, nos indica o que haveremos de louvar.



§ 2
Vinde, exultemos no Senhor”.

Convida-nos a um grande banquete de alegrias, não no mundo, mas no Senhor. Se não houvesse no mundo uma alegria perversa, distinta da alegria no bom sentido, bastaria dizer:

Vinde, exultemos”.

Mas, o salmista faz uma curta distinção. Que é exultar bem? Exultar no Senhor. Por conseguinte, má exultação é exultar de acordo com o mundo; boa exultação é exultar no Senhor. Deves exultar com piedade, se queres com segurança zombar do mundo. Que significa:

Vinde?” Por que chama companheiros para exultarem diante do Senhor, a não ser porque eles estão longe e a fim de que se aproximem, aproximando-se cheguem aonde ele está e chegando exultem? Qual o lugar longíquo onde estão? Pode o homem estar longe daquele que está em toda parte? Queres estar longe dele? Aonde irás para ficares longe? Pois, certo pecador que no entanto estava arrependido e esperançoso de obter a salvação, chorando seus pecados e temendo a ira de Deus, no intuito de aplacar a Deus, diz em outro salmo:

Aonde irei para longe de teu espírito e aonde fugirei de tua face? Se subir até o céu lá estás”.

Que falta ainda? Pois, se subir ao céu, lá encontra a Deus; para fugir bem longe de Deus, aonde há de ir? Vê o que diz:

Se descer ao inferno ali estás presente(Sl 138,7.8).

Se, portanto, subindo ao céu, lá encontra Deus e descendo ao inferno não foge dele, para onde ir, aonde fugir de sua ira, a não ser refugiando-se nele, depois de aplacá-lo? Entretanto, apesar de ninguém absolutamente conseguir fugir daquele que está em toda parte, se alguns não estivessem longe de Deus, não teria dito o profeta:

Este povo me glorifica com os lábios, mas o seu coração está longe de mim(Is 29,13).

Efetivamente, ninguém está longe localmente de Deus, mas é a falta de semelhança que o afasta. Que é dessemelhança? A vida má, os maus costumes. Se, pois, os bons costumes aproximam de Deus, os maus dele apartam. Um e mesmo homem estando corporalmente num lugar e amando a Deus aproxima-se dele, mas amando a iniqüidade dele se afasta. De forma alguma move os pés, contudo pode aproximar-se e afastar-se. Ora, os nossos pés neste caminho são nossos afetos. Segundo os afetos, o amor, alguém se aproxima ou se afasta de Deus. Acaso não afirmamos ao encontrarmos objetos diferentes: Este objeto está muito longe daquele? Quando comparamos, por exemplo, dois homens, dois cavalos, duas vestes, e alguém declara: Como se parece esta veste com aquela, tal qual! Ou: Este homem é tal qual aquele. Como se responde, se contradiz? De forma nenhuma; longe disso. Que quer dizer: Longe disso? É completamente diferente. Estão juntos, e no entanto longe um do outro. Dois malvados, iguais em vida e costumes, se estão um no oriente e outro no ocidente, estão perto um do outro. E dois justos, igualmente, que se acham um no oriente, outro no ocidente, estão um ao lado do outro, porque estão em Deus. Ao invés, um justo e um pecador, embora ligados por uma corrente, estão inteiramente separados um do outro. Por conseguinte, se pela dessemelhança nos apartamos de Deus, a semelhança nos aproxima. Qual? Aquele segundo a qual fomos feitos e que corrompemos pelo pecado, que recuperamos pela remissão dos pecados, que se renova interiormente em nosso espírito, de sorte que seja de certo modo regravada na moeda, a saber, em nossa alma, a imagem de nosso Deus, e assim voltemos a seus tesouros. Pois, qual o motivo, irmãos, por que nosso Senhor Jesus Cristo quis mostrar por meio de uma moeda aos tentadores o que Deus deseja? De fato, quando a propósito do tributo devido a César, os judeus procuravam um motivo de caluniá-lo, quiseram consultar o mestre da verdade, e com essa consulta tentá-lo se era lícito pagar o tributo a César. Que lhes respondeu? “Hipócritas! Por que me pondes à prova?” Pediu que lhe apresentassem uma moeda, e troxeram-lhe uma.

De quem é esta imagem?” Responderam:

De César” Então lhes disse:

Pois devolvei o que é de César a César, e o que é de Deus a Deus(Mt 22,15-21).

Seria como se dissesse: Se César procura na moeda a sua imagem, Deus não há de buscar no homem a sua? Nosso Senhor Jesus Cristo ao convidar-nos a tal semelhança, ordena amarmos até mesmo os inimigos, apresentando-nos o exemplo do próprio Deus:

Como vosso Pai, que está nos céus, porque ele faz nascer o seu sol igualmente sobre bons e maus e cair a chuva sobre justos e injustos. Portanto, deveis ser perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito(Mt 5,45.48).

A expressão:

Deveis ser perfeitos como ele”, convida-nos à semelhança. Se, portanto, somos convidados à semelhança, consta que sendo diferentes nos havíamos afastado de Deus, e estávamos longe pela dessemelhança; aproximamo-nos pela semelhança, de tal sorte que nos aconteça o que foi escrito:

Acercai-vos dele e sereis inimigos(Sl 33,6).

Conseqüêntemente, este salmo se dirige a alguns que estão longe e vivem mal:

Vinde, exultemos no Senhor”.

Aonde ides? Para onde vos afastais? Aonde vos apartais? Para onde fugis, exultando conforme o mundo? “Vinde, exultemos no Senhor”.

Aonde ides para exultar e lá desfalecerdes? Vinde, exultemos naquele que nos criou.

Vinde, exultemos no Senhor”.



§ 3
Jubilemos diante de Deus, nosso Salvador”.

Que é jubilar? Jubilar é ter um gáudio inexplicável em palavras, que, todavia, a voz demonstra haver interiormente, mas não pode exprimir. Considere V. Caridade aqueles que jubilam em certas cantilenas, quase num certame de alegrias mundanas. Verificais que no meio de cânticos expressos com palavras, transborda uma alegria que a língua não consegue traduzir; então os homens jubilam, indicando por aqueles sons os afetos interiores, porque não são capazes de explicar o que o coração concebe. Se, portanto, eles jubilam devido ao gáudio terreno, nós não devemos jubilar por causa do gáudio celeste, que não podemos expressar por palavras?



§ 4
2 “Com a confissão saiamos ao seu encontro”.

A Escritura toma a palavra confissão em duas acepções. Há confissão de louvor, e confissão com gemidos. Confissão de louvor consiste em prestar honra àquele que é louvado. A confissão com gemidos pertence à penitência de quem confessa seus pecados. Pois, os homens confessam ao louvar a Deus; confessam ao se acusarem. Nada de mais nobre faz a língua. Na verdade, considero serem esses os votos referidos em outro salmo:

Cumprirei os votos que meus lábios dintinguiram(Sl 65,13.14).

Nada mais sublime do que esta distinção, nada tão necessário, tanto para se entender, como para se realizar. Como, então, distingues os votos que cumpres diante de Deus? Que o louves e te acuses; porque é próprio de sua misericórdia perdoar-nos os pecados. Pois, se ele quisesse atender aos méritos, só encontraria a quem condenar.

Vinde”, disse por isso o salmista, de tal modo que nos afastemos de nossos pecados, e não tenhamos de prestar contas do passado; mas, a fim de recebermos tábuas novas, são queimados todos os documentos de nosso débito. Confessemos, louvando-o efetivamente, pois tão grande é seu louvor, tão grande sua misericórdia. De fato, se a confissão sempre fosse própria a um penitente, não diria o evangelho a respeito do próprio Senhor:

Naquele momento Jesus exultou de alegria sob a ação do Espírito Santo e disse: Eu te confesso, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos e a revelaste aos pequeninos(Lc 10,21).

Cristo confessava porque era penitente? De nada podia se arrepender porque nada de culpável havia feito; mas confessava o Pai, louvando-o. Por conseguinte, como o salmo trata de exultação, talvez devamos entender aquela confissão que consiste no louvor de Deus. Daí também o título:

Cântico de louvor”; entenda-se: confissão dos que louvam e não dos que se penitenciam. Então, porque logo nos adverte sobre certa confissão, nesses termos:

Com a confissão saiamos ao seu encontro?” Que sentido tem o versículo:

Com a confissão saiamos ao seu encontro?” O Senhor virá:

Com a confissão saiamos ao seu encontro primeiro”.

Antes que ele venha, condenemos por nossa confissão o que fizemos, a fim de que ele encontre o que coroar e não o que condenar. Acaso não pertence ao louvor de Deus a confissão de teus pecados? Ao contrário, pertence em máximo grau ao louvor de Deus. Por que pertence principalmente ao louvor de Deus? Porque o médico é tanto mais louvado quanto mais estavas doente gravemente atingido. Confessa, portanto, teus pecados, quanto mais tinhas perdido a esperança em vista de teus pecados. O louvor daquele que perdoa deve ser maior, em proporção da gravidade dos pecados daquele que confessa. Não pensemos, com efeito, termos deixado o cântico de louvor, se aqui entendemos por confissão a de nossos pecados. Também isso pertence ao cântico de louvor, porque ao reconhecermos nossos pecados, recomendamos a glória de Deus.

Com a confissão saiamos ao seu encontro”.



§ 5
3.5 “E com salmos jubilemos diante dele”.

Já explicamos o que é jubilar. Repete-se, a fim de confirmar por obras. A própria repetição constitui uma exortação. Não quero dizer que tenhamos esquecido, de tal modo que queiramos ser advertidos do que foi dito acima, a saber, que jubilemos; mas muitas vezes, para aumentar o afeto, repete-se a palavra já conhecida, não a fim de se saber, e sim porque a própria repetição confirma. Repete-se para dar a entender o afeto de quem fala. Daí provém o modo de se expressar do Senhor:

Em verdade, em verdade vos digo(Jo 1,51).

Bastava uma só vez:

Em verdade”; por que:

Em verdade, em verdade”, senão porque a própria repetição é uma confirmação? Por isso, diz o salmo:

Com salmos jubilemos diante dele”.

E que dizemos nos salmos? Que dizemos, ou antes, que sentimos no jubilo? Que comporta esse cântico de louvor? Escutai:

Porque o Senhor é o Deus supremo, o rei que ultrapassa todos os deuses”; por isso, jubilemos diante dele.

Porque o Senhor, não repele o seu povo”, jubilemos diante dele.

Porque estão em suas mãos os limites da terra e os cumes das montanhas lhe pertencem”, por causa disso tudo jubilemos diante dele.

Porque seu é o mar e ele mesmo o fez e suas mãos estabeleceram a terra firme”, jubilemos diante dele. Mas se quisermos explicar convenientemente o sentido de tudo isso, com certeza o tempo não será suficiente; mas, se ao contrário deixarmos tudo, ficaremos devendo. Brevemente, portanto, quanto o tempo permitir e pudermos resumir, recebei o que oferecermos; pois mesmo sendo poucas as sementes, a messe será farta se a terra for fértil.



§ 6
Em primeiro lugar, deu o seguinte motivo de louvor, de júbilo:

Porque o Senhor é o Deus supremo e rei que ultrapassa todos os deuses”.

Existem, portanto, deuses que nosso Deus ultrapassa, esse Deus diante do qual jubilamos, exultamos, proferimos cânticos de louvor, mas não para nós. Com efeito, diz o Apóstolo:

Se bem que existam aqueles que são chamados deuses, quer no céu, quer na terra — e há, de fato, muitos deuses e muitos senhores —, para nós, contudo, existe um só Deus, o Pai, de quem tudo procede e para quem nós somos, e um só Senhor, Jesus Cristo, por quem tudo existe e por quem nós somos(1 Cor 8,5.6).

Se, portanto, não existem para nós, para quem existem? Escuta o que diz outro salmo:

Porque os deuses das nações são demônios. Mas o Senhor fez os céus(Sl 95,5).

O Espírito Santo, através do profeta não podia de maneira mais magnífica e breve te recomendar teu Deus e Senhor. Era pouco que Deus fosse terrível acima de todos os demônios. Que importância há em estar acima de todos os demônios? “Porque os deuses das nações são demônios. E o teu Deus? Mas o Senhor fez os céus”.

Teu Senhor fez a morada onde os demônios não podem habitar. Eles foram expulsos dos céus. Os céus ultrapassam os demônios, teu Senhor ultrapassa os céus, porque teu Senhor fez os céus. Quanto, por conseguinte, não é mais alto que os demônios, deuses das nações, aquele que é mais elevado que os céus, de onde os demônios caíram para se transformarem em demônios? E no entanto, todos os povos estavam sujeitos aos demônios. Para eles foram construídos templos, para os demônios foram levantados altares, foram instituídos sacerdotes, oferecidos sacrifícios e possessos apresentados como vates. Aos demônios exibiram tudo isso as nações. Todas essas coisas, no sentido verdadeiro, eram devidas ao grande e único Deus. Os povos fizeram templos para os demônios. Deus tem um templo. As nações deram sacerdotes aos demônios. Deus tem o seu sacerdote. As nações ofereceram sacrifício aos demônios. Deus tem seu sacrifício. Efetivamente, os demônios, querendo parecer deuses, não exigiriam tudo isso no intuito de enganar, se não soubessem que era devido ao Deus verdadeiro. Habitualmente se deve ao Deus verdadeiro aquilo que um deus falso exige para si. Por isso, reconhecemos o verdadeiro templo de Deus.

Pois o templo de Deus é santo e esse templo sois vós(1 Cor 3,17).

Se, portanto, somos o templo de Deus, nossa alma é o altar de Deus. E que é o sacrifício a Deus? Talvez o que fazemos agora. Impomos um sacrifício no altar quando louvamos a Deus. O salmo nos ensina ao dizer:

O sacrifício de louvor me glorificará e ali está o caminho em que lhe mostrarei a salvação de Deus(Sl 49,23).

Mas, se procuras qual o sacerdote, está acima dos céus; ele intercede por ti (cf Rm 8,34), tendo na terra morrido por ti. Portanto, “o Senhor é o Deus supremo e rei que ultrapassa todos os deuses”.

Toma aqui “deuses” no sentido de homens, porque o Senhor não é rei acima dos demônios. Para tal, temos o testemunho da Escritura:

Deus está de pé na assembléia dos deuses e no meio deles instituiu seu julgamento(Sl 81,1).

Chamou-os deuses por participação, não por natureza; pela graça, com a qual Deus os quis tornar deuses. Como não é grande o Deus que cria deuses? Ou, de que espécie são os deuses fabricados pelo homem? Assim como ele é grande fazendo deuses, tanto são nada os deuses fabricados pelos homens. O Deus verdadeiro fez deuses que nele crêem, e deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus (cf Jo 1,12).

Por isso, ele é verdadeiro Deus, porque Deus não foi feito. Nós, porém, fomos feitos, não somos verdadeiros deuses, no entanto somos melhores do que os que o homem faz. Porque “os ídolos das nações são ouro e prata, obra das mãos dos homens: têm boca e não falam, têm olhos e não vêem(cf Sl 113,4.5).

Nosso Deus, porém, nos deu olhos que vêem. Nem por isso nos fez deuses, tendo nos dado olhos que vêem, porque deu-os também aos animais. Mas fez-nos deuses, porque nos iluminou os olhos interiores. Por conseguinte, louvor a ele, confissão, júbilo:

Porque o Senhor é o Deus supremo e rei que ultrapassa todos os deuses”.



§ 7
Porque o Senhor não repele o seu povo”.

A ele louvor, júbilo. Qual o povo que ele não repele? Aqui não temos o que interpretar; já o temos solto pelo Apóstolo; ele expôs por que foi dito assim (Rm 1,1).

Havia o povo da Judéia, o povo onde existiram os profetas, o povo que teve os patriarcas, o povo também segundo a carne da descendência de Abraão; povo no meio do qual encontraram-se de antemão todos os sinais que prometiam nosso Salvador; povo onde fora estabelecido o templo, a unção, o sacerdócio figurativo, de tal sorte que tudo isso passasse como sombras uma vez que a luz chegasse. Era, portanto, esse o povo de Deus; para ele foram enviados os profetas, que ali nasceram para serem enviados; foram-lhe entregues e confiadas as palavras de Deus. E então? Todo ele foi condenado? De forma nenhuma. O Apóstolo chama de oliveira esta árvore, árvore que começou com os patriarcas. Mas houve ramos secos, porque estavam alto demais pela soberba. Foram cortados devido a sua esterilidade e enxertada a oliveira silvestre, devido a sua condição humilde. Contudo, caríssimos, a fim de que a oliveira silvestre não se orgulhasse, que diz o Apóstolo? “Com efeito, se tu foste cortado da oliveira silvestre por natureza e contra a natureza foste enxertado na oliveira mansa, com maior razão os ramos naturais serão enxertados na oliveira a que pertencem(Rm 11,16-24).

Da mesma forma que tu, não permanecendo na infidelidade, mereceste ser enxertado na oliveira boa, embora fosses da oliveira silvestre, assim também estes, uma vez emendados, mais facilmente serão enxertados na oliveira que lhes pertence naturalmente. Assim se exprime o Apóstolo sobre o assunto. Portanto, esta é a árvore; apesar de terem sido cortados alguns ramos, nem todos o foram. Pois, se todos os ramos tivessem sido cortados, de onde viria Pedro? E João? E Tomé? E Mateus? E André? E todos os apóstolos? De onde o próprio apóstolo Paulo que falava e atestava ser da oliveira por seus frutos? Todos estes não vieram dali? De onde sairam os quinhentos irmãos aos quais apareceu o Senhor após a ressurreição? (cf 1Cor 15,6).

De onde vieram tantos mil que devido à palavra de Pedro, quando os apóstolos repletos de Espírito Santo falaram as línguas de todos os povos, se converteram, tão ávidos de louvarem a Deus e de acusarem a si mesmos que, tendo anteriormente derramado o sangue do Senhor, cheios de furor, aprenderam a bebê-lo, após terem crido? Igualmente converteram-se milhares que venderam seus bens, e depositaram o preço da venda aos pés dos apóstolos (cf At 4,4.34-35).

Realizaram imediatamente tantos mil daqueles por cujas mãos fora Cristo crucificado, o que o jovem rico não fez, apesar de ter ouvido o chamado da boca do Senhor; mas se afastou com tristeza (cf Mt 19,21.22).

Profunda era a ferida no coração deles; por isso procuraram o médico com desejo tanto maior. Como, pois, todos se originaram deste povo, agora diz o salmo a seu respeito:

Porque o Senhor não repele o seu povo”.

Efetivamente, o Apóstolo emprega o testemunho deste salmo, ao falar deste povo:

Pergunto, então, irmãos: Não teria Deus, porventura, repudiado seu povo, que de antemão conhecera? De modo algum! Pois eu também sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim. Não repudiou Deus o seu povo que de antemão conhecera(Rm 11,1.2).

Com efeito, se Deus tivesse repudiado seu povo, não haveria de onde sair o próprio Apóstolo; e sua origem é a mesma dos outros. Eles eram do povo de Deus, mas não todos os outros, conforme foi escrito:

O resto é que será salvo(Is 10,22; Rm 9,27).

Não todos; mas depois da ventilação da eira, os grãos foram recolhidos no celeiro e a palha ficou fora. Vês o conjunto dos judeus repudiados; são palha. Dali, onde está a palha, já foi retirado o grão e depositado no celeiro. Vejamos ambas as coisas e façamos a distinção devida.



§ 8
Que acrescenta o salmo? “Porque estão em suas mãos os limites da terra”.

Reconhecemos aí a pedra angular; pedra angular é o Cristo. Não pode haver ângulo se duas paredes não se encontrarem; elas vêm de partes diversas ao ângulo, mas aí não se opõem mais. De um lado veio a circuncisão e do outro, os gentios. Em Cristo ambos os povos chegaram a uma concórdia, porque ele se tornou a pedra, da qual foi escrito:

A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular(Sl 117,22).

Então, se Cristo é a pedra angular, não advirtamos na diversidade daqueles que vêm de longe, mas a proximidade dos que aderem a Cristo, unidos entre si. Ali se realiza. Vejamos:

Porque o Senhor não repele o seu povo”.

Eis uma das paredes, acerca do qual dissemos que “o Senhor não repele o seu povo”.

A este pertencem os apóstolos, e todos os israelitas que acreditam e depositaram aos pés dos apóstolos o preço da venda de suas propriedades (cf At 4,34.35).

Foram pobres voluntários, ricos diante de Deus. Reconhecemos uma das paredes; realizou-se a palavra:

Porque o Senhor não repele o seu povo”.

Vejamos também a outra parede.

Porque estão em suas mãos os limites da terra”.

Eis a outra parede, constituída de todos os povos:

Estão em suas mãos os limites da terra”.

Vieram também todos os povos para junto da pedra angular, onde receberam o ósculo da paz, naquele único Cristo que de dois povos fez um só, ao contrário dos hereges que de um povo fizeram dois. É isso mesmo que o Apóstolo afirma acerca de Cristo Senhor:

Ele é a nossa paz: de ambos os povos fez um só(Ef 2,14).

Por conseguinte, jubilemos diante dele. Por que motivo? “Porque o Senhor não repele o seu povo”.

E ainda, por que razão? “Porque estão em suas mãos os limites da terra e os cumes das montanhas lhe pertencem”.

Cumes das montanhas são as sublimidades terrenas. Algumas vezes essas sublimidades, isto é, os potentados da terra se opuseram à Igreja; promulgaram leis contra a Igreja e empenharam-se em apagar da terra o nome cristão; mas depois de realizada a profecia:

Adorá-lo-ão todos os reis da terra(Sl 71,11), cumpriu-se a palavra:

Os cumes das montanhas lhe pertencem”.



§ 9
Mas talvez te alarmem as tentações, de tal sorte que apesar de tamanha graça das promessas de Deus, por causa dos escândalos do mundo tu te perturbas? Nem os próprios escândalos podem causar-te mal, porque Deus lhes impôs uma medida:

Porque seu é o mar”.

Este mundo é, de fato, um mar, mas também o mar foi Deus quem o fez. Suas ondas podem encapelar-se, mas não além das praias, que Deus lhes estabeleceu por limite. Em conseqüência, nenhuma tentação existe que não tenha sido regulada pelo Senhor. Haja, por conseguinte, tentações, existam tribulações; chegarás a uma consumação, mas não serás consumido. Observa se as tentações não são úteis. Presta atenção ao que diz o Apóstolo:

Deus é fiel; não permitirá que sejais tentados acima de vossas forças. Mas, com a tentação, ele vos dará os meios de sair dela e a força para a suportar(1 Cor 10,13).

Ele não afirmou: De forma alguma vos deixará serdes tentados. Se recusas a tentação, recusas o reconforto. Portanto, és refeito; e se fores refeito, estarás nas mãos do artífice. Tira algo, corrige outro ponto, ali aplaina, aqui limpa. Trabalha com determinadas ferramentas, que são os escândalos deste mundo. Tu apenas não escapes da mão do artífice. Nenhuma tentação te advirá acima de tuas forças. Deus a permite para teu bem, teu progresso. Enfim, escuta o acréscimo do Apóstolo:

Mas, com a tentação, ele vos dará os meios de sair dela e a força para a suportar”.

Efetivamente, o mar te causava medo? Não temas:

Porque seu é o mar e ele mesmo o fez”.

Atemorizam-te os escândalos das nações? Ele fez os povos; não permitirá que seu furor ultrapasse a medida que ele sabe te ser útil. Não declara outro salmo:

As nações que criaste hão de vir e prostrar-se diante de ti, Senhor”? (Sl 85,9).

Se está declarado: as nações que criaste, é claro que foi ele quem criou as nações, e portanto, “seu é o mar e ele mesmo o fez e suas mãos estabeleceram a terra firme”.

Sê uma terra seca, tem sede de graça de Deus e cairá sobre ti uma chuva suave, e darás fruto. Ele não permite que as ondas inundem o que ele semeou:

E suas mãos estabeleceram a terra firme”.

Por isso também jubilemos diante dele.



§ 10
6 Visto que as coisas assim se dão, e que explicamos tantas coisas referentes ao louvor de Deus, voltai ao pensamento do salmo:

Vinde, adoremos, prostremo-nos e choremos diante do Senhor que nos criou”.

Exultemos, uma vez que Deus fez isto e aquilo. O salmo menciona muitas ações, e agora repete a exortação:

Vinde, adoremos, prostremo-nos e choremos diante do Senhor que nos criou”.

Tendo eu relembrado os louvores de Deus, não tenhais preguiça, nem fiqueis longe pela vida e costumes:

Vinde, adoremos, prostremo-nos diante dele”.

Mas, é pos-sível que vos preocupem vossos pecados, que vos afastaram de Deus. Façamos o seguinte:

Choremos diante do Senhor que nos criou”.

Queima-te talvez a consciência do delito; extingue com lágrimas a chama do pecado, chora diante do Senhor. Chora com segurança diante do Deus que te fez, pois ele não despreza a obra de suas mãos em ti. Não penses que podes refazer-te a ti mesmo. Podes desfazer-te, mas refazer-te não podes. Restaura-te aquele que te fez.

Choremos diante do Senhor que nos fez”.

Derrama lágrimas diante dele, confessa, sai ao seu encontro com a confissão. Quem és tu que choras diante dele, que confessas, senão aquele que ele fez? Não é pequena a confiança que inspira o artífice a seu artefacto, principalmente quando não foi feito de qualquer modo e sim à sua imagem e semelhança:

Vinde, adoremos, prostremo-nos e choremos diante do Senhor que nos criou”.



§ 11
7 “Porque ele é o Senhor nosso Deus”.

Para que tranqüilamente possamos prostrar-nos e chorar diante dele, quem somos nós? “Nós, porém, somos o povo que ele apascenta e as ovelhas de suas mãos”.

Anota com que elegância mudou a ordem das palavas, não as unindo do modo mais apropriado, a fim de entendermos que as ovelhas aqui se identificam com os povos. Ele não disse: Ovelhas que ele apascenta, e povo que sua mão conduz, o que seria mais congruente, porque pastar é próprio das ovelhas; e sim; “povo que ele apascenta”.

Por conseguinte, os povos aqui são ovelhas, pois diz:

povo que ele apascenta”: o próprio povo constitui as ovelhas. Mas, de outro lado, temos ovelhas que compramos, e não que tenhamos feito. Dissera mais acima:

Prostremo-nos diante daquele que nos criou”, e com razão foi dito:

ovelhas de suas mãos”.

Nenhum homem pode fazer ovelhas. Pode comprar, pode ganhar, pode achar, pode acumular, finalmente pode roubar; mas não pode fazê-las. Ao invés, o Senhor nos fez; por isso somos “povo que ele apascenta e ovelhas de suas mãos”, que ele se dignou criar por sua graça. O Cântico dos cânticos elogia essas ovelhas, dizendo que lhes são semelhantes os dentes perfeitos da Igreja, sua esposa:

Teus dentes, um rebanho tosquiado, subindo após o banho, cada ovelha com seus gêmeos, nenhuma delas sem cria(Ct 4,2; 6,5).

Que significa:

Teus dentes?” Os que te ajudam a falar. São dentes da Igreja aqueles através dos quais ela fala. De que espécie são os teus dentes? São “como um rebanho tosquiado”.

Por que “tosquiado?” Porque tiraram os fardos do mundo. Não são tosquiadas as ovelhas, da quais pouco acima falava, tosquiadas pelo preceito de Deus.

Vai, vende os teus bens e dá aos pobres, e terás um tesouro nos céus. Depois, vem e segue-me”? (Mt 19,21).

Obedeceram ao preceito e vieram tosquiados. Tendo sido batizados e crendo em Cristo, que se diz? Subindo após o banho, isto é, subindo purificados.

Cada ovelha com seus gêmeos”.

Por que gêmeos? Trata-se dos dois preceitos, dos quais dependem a lei e os profetas. Por isso, “nós somos o povo que ele apascenta e as ovelhas de suas mãos”.



§ 12
8 Em vista disso:

Hoje, se ouvirdes a sua voz”.

Povo meu, povo de Deus! Deus fala a seu povo, não somente àquele povo que ele não repele, mas a todo o seu povo. Fala do ângulo das duas paredes (cf Ef 2,20), isto é, a profecia fala em Cristo ao povo dos judeus e ao povo dos gentios.

Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações”.

De fato, outrora ouvistes a sua voz, através de Moisés, e endurecestes os vossos corações; agora fala por si mesmo, que vossos corações se suavizem. Dignou-se vir em pessoa aquele que enviava adiante de si os arautos; fala por sua própria boca quem falava pela boca dos profetas. Por isso:

hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações”.



§ 13
9 Por que disseste:

Não endureçais os vossos corações?” Porque recordais como costumavam agir vossos pais.

Não endureçais os vossos corações, como no dia da irritação, da tentação no deserto”.

Com certeza, irmãos, vós vos lembrais de que o povo judaico tentou a Deus (cf Ex 16,2.3; 17,2.7), recebeu o castigo e foi domado no deserto como por um ótimo cavaleiro, pelos freios das leis, os freios dos preceitos. Não foi, contudo, abandonado por Deus, apesar de indômito, não apenas por meio de benefícios, mas ainda não faltou a vara que emenda. Por isso, “não endureçais os vossos corações, como no dia da irritação, da tentação no deserto, em que vossos pais me provocaram”.

Não sejam esses vossos pais; não os imiteis. Eram vossos pais; mas se não os imitardes, não serão vossos pais; no entanto, uma vez que nascestes deles, eram vossos pais. Efetivamente, vieram povos dos confins da terra, conforme diz Jeremias:

Para ti acorrem as nações das extremidades da terra. Elas dirão: Nossos pais não cultuaram senão mentira, vazio que não serve para nada(Jr 16,19).

As nações deixaram seus ídolos, para adotarem o Deus de Israel. Então, deveriam os hebreus deixar seu Deus, quando as nações adotaram-no, aqueles que o próprio Deus de Israel tirou do Egito e conduziu através do mar Vermelho, onde afogou os inimigos que os perseguiam (cf Ex 14,21-31); que levou pelo deserto, alimentou com o maná, nunca retirou a vara de cima deles para sua instrução nem lhe subtraiu os benefícios de sua misericórdia? (cf Ex 16,13-35).

Em que vossos pais me provocaram e tentaram, apesar de terem visto as minhas obras”.

Durante quarenta anos viram minhas obras, durante quarenta anos me provocaram. Diante deles fazia milagres pela mão de Moisés, e eles cada vez mais endureciam seus corações.



§ 14
10 “Por quarenta anos estive próximo desta geração”.

Qual o sentido da expressão:

estive próximo?” Apresentei-me com sinais e milagres. Não foi um dia, ou dois, mas:

Por quarenta anos estive próximo desta geração e disse: Eles têm sempre o coração transviado”.

Quarenta anos equivalem a “sempre”.

Pois, o número quadragenário indica a integridade dos séculos, visto que os séculos se perfazem por este número. Igualmente, o Senhor jejuou por quarenta dias, foi tentado por quarenta dias no deserto, e por quarenta dias esteve com os discípulos depois da ressurreição (cf Mt 4,1-11; At 1,3).

Demonstrou nos primeiros quarenta dias a tentação e nos segundos, a consolação, porque quando somos tentados, sem dúvida somos também consolados. Com efeito, é necessário que seu corpo, isto é, a Igreja sofra tentações neste mundo; mas não lhe falta aquele consolador que disse:

Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos(Mt 28,20).

E disse: Eles têm sempre o coração transviado”.

Estive com eles por quarenta anos, a fim de mostrar a espécie de homens que sempre me provoca até o fim dos séculos; porque por aqueles quarenta anos quis representar todos os séculos.



§ 15
11 E então? Não existirão outros que entrem em seu lugar no repouso de Deus? Foram reprovados aqueles aos quais desagradou a misericórdia de Deus, que resistiram a Deus, com o coração endurecido. Tendo sido esses repudiados, Deus perdeu seu povo? Não será verdadeira a palavra:

Mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos da Abraão”? (Mt 3,9).

Portanto, disse:

Eles têm sempre o coração transviado e não conhecem os meus caminhos. Por isso jurei em minha ira: Não entrarão no lugar de meu repouso. Jurei em minha ira: Não entrarão no lugar de meu repouso”.

Que terror! O salmo começou com exul-tação e conclui com grande terror:

Jurei em minha ira. Não entrarão no lugar de meu repouso”.

É grandioso quando o Senhor fala; quanto mais quando jura? Deves ter medo do homem que jura, pois pode fazer contra sua vontade aquilo que jurou. Quanto mais a Deus, que não pode fazer juramento temerário? Quis jurar para confirmar. E por quem Deus jura? Por si mesmo; não encontra outro maior por quem jurar (cf Hb 6,13).

Por si mesmo confirma suas promessas, por si mesmo confirma suas ameaças. Ninguém diga em seu coração: É verdade, aquilo que promete; falso o que ameaça. Como é verdade o que promete, é certo aquilo que ameaça. Deves estar tão certo do repouso, da felicidade, da eternidade, da imortalidade se cumprires seus preceitos quanto deves estar certo da perdição, do ardor do fogo eterno, da condenação com o diabo, se desprezares seus mandamentos. Por isso jurou em sua ira que não entrarão em seu repouso. Todavia, importa que entrem alguns em seu repouso; ele não diz que ninguém receberá este repouso. Os outros serão reprovados e nós entraremos; porque, apesar de serem alguns ramos quebrados por causa de sua dessemelhança e falta de fé, nós devido à fé e à humildade seremos enxertados (cf Rm 11,19.20).

Entremos, portanto, em seu repouso. Por que entraram aqueles que deviam entrar, que foram escolhidos, que não resistiram de coração endurecido? Porque é verdade que “o Senhor não repele o seu povo”.