SALMO 𝟛

Levanta-te, Senhor! salva-me, Deus meu! pois tu feres no queixo todos os meus inimigos; quebras os dentes aos ímpios.

A salvação vem do Senhor; sobre o teu povo seja a tua bênção.





ORAÇÃO ⁜ SALMO DA BÍBLIA № 3


§ 3:1  Senhor, como se têm multiplicado os meus adversários! Muitos se levantam contra mim.

§ 3:2  ɱ Muitos são os que dizem de mim: Não há socorro para ele em Deus.

§ 3:3  ɱ Mas tu, Senhor, és um escudo ao redor de mim, a minha glória, e aquele que exulta a minha cabeça.

§ 3:4  Ƈ Com a minha voz clamo ao Senhor, e ele do seu santo monte me responde.

§ 3:5  Eu me deito e durmo; acordo, pois o Senhor me sustenta.

§ 3:6  Ɲ Não tenho medo dos dez milhares de pessoas que se puseram contra mim ao meu redor.

§ 3:7  Ł Levanta-te, Senhor! salva-me, Deus meu! pois tu feres no queixo todos os meus inimigos; quebras os dentes aos ímpios.

§ 3:8  A salvação vem do Senhor; sobre o teu povo seja a tua bênção.


O SALMO 3



§ 1
1 “Salmo de Davi, quando fugia de seu filho Absalão”.

A locução:

Levanta-te, Senhor! salva-me, Deus meu! pois tu feres no queixo todos os meus inimigos; quebras os dentes aos ímpios. A salvação vem do Senhor; sobre o teu povo seja a tua bênção.” persuade-nos a aplicar este salmo à pessoa de Cristo. De modo mais adequado se refere à paixão e ressurreição do Senhor do que à história de Davi a fugir do filho, em guerra contra ele (2Sm 15,17).

Estando escrito a respeito dos discípulos de Cristo:

Os amigos do esposo não jejuam enquanto o esposo está com eles(Mt 9,15), não é de admirar que esse filho desnaturado represente o discípulo impiedoso que o traiu. Embora seja possível o sentido histórico relativo à fuga de Cristo da presença do traidor, quando havendo Judas saído ele se apartou com os demais para o monte, no entanto, espiritualmente o Filho de Deus, isto é, a virtude e a sabedoria de Deus, abandonou o espírito de Judas e o diabo o invadiu totalmente, conforme está escrito:

O diabo entrou em seu coração(Jo 13,2).

Com razão entende-se ter Cristo fugido dele. Não quer dizer que Cristo cedeu ao diabo, mas quando Cristo se afastou, o diabo se apossou de Judas. Penso que neste salmo seu afastamento se denomina fuga por causa da pressa com que se realizou. A palavra aparece na declaração do Senhor:

Faze depressa o que tens de fazer(Jo 13,27).

Nós também costumamos dizer: Fugiu-me, quando não nos lembramos de alguma coisa; e de um homem muito douto afirmamos: Nada lhe escapa. A verdade, portanto, fugiu da mente de Judas, ao deixar de iluminá-lo. O nome de Absalão na opinião de alguns se traduz por: paz do pai. Pode causar estranheza o significado de paz do pai, seja na história dos Reis, onde vemos Absalão guerreando contra o pai, seja na história do Novo Testamento, pois Judas traiu o Senhor. Mas, lendo com atenção, verifica-se que naquela guerra Davi foi pacífico em relação ao filho, cuja morte chorou com grande dor, exclamando:

Absalão, meu filho, por que não morri eu em teu lugar!” E na história do Novo Testamento, embora estivesse o traidor agitado pela luta interna de um desígnio criminoso, bem se percebe ter nosso Senhor lhe oferecido a paz, por meio daquela tão grande e admirável paciência, com a qual por tanto tempo o suportou, como se fosse homem de bem, apesar de não ignorar seus planos, e quando o admitiu à ceia, onde lhe confiou e entregou aos discípulos o mistério de seu corpo e de seu sangue, e finalmente recebeu um beijo no próprio ato da traição (Mt 26,49).

Absalão é paz do pai, porque o pai possuía a paz; ele, não.



§ 2
2.3 “Senhor, como se multiplicaram os que me afligem!” São tantos que não faltou, nem mesmo do número dos discípulos, quem aumentasse o número dos perseguidores.

Numerosos são os que se insurgem contra mim! São muitos a dizer a minha alma: Para ele não há salvação junto de Deus”.

É óbvio que não o matariam se não houvessem perdido a esperança de que ele ressuscitaria. Em tal sentido são válidas as palavras:

Se és Filho de Deus, desce da cruz(Mt 27,40) e:

A outros salvou, a si mesmo não pode salvar!(Jo 27,42).

Nem Judas, portanto, o trairia, se não fosse do número dos que desprezaram a Cristo, dizendo:

Para ele não há salvação junto de Deus”.



§ 3
4 “Tu, porém, Senhor, és o meu abrigo”.

Dirige-se a Deus, enquanto homem, porque o Verbo se fez carne assumindo a natureza humana.

Minha glória”.

Declara também que Deus é sua glória, aquela que o Verbo recebeu de tal modo que, com ele, se tornasse Deus. Aprendam os soberbos que não ouvem de bom grado que se lhes pergunte:

Que é que possuis que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que haverias de te ensoberbecer como se não tivesses recebido? (1 Cor 4,7).

E ergues a minha cabeça”.

A meu ver, cabeça é aqui o espírito humano, chamado, com justeza, cabeça da alma, a qual aderiu e se uniu a excelente supereminência do Verbo, que assumira a natureza humana, de tal sorte que não foi deposta nem diante da grande humilhação da paixão.



§ 4
5 “Clamei ao Senhor com minha voz”.

Não a voz do corpo, que se emite golpeando ruidosamente o ar, mas a do coração, silenciosa perante os homens, todavia clamorosa diante de Deus. Por meio desta voz Susana foi atendida (Dn 13,44).

Com tal voz o próprio Senhor ordenou que se ore de portas fechadas, isto é, no segredo do coração, sem ruído (Mt 6,6).

Não é exata a afirmação de que rezamos menos quando nenhuma palavra proferimos corporalmente, porque se rezarmos no coração calados, mas com pensamentos interpostos, alheios ao afeto do orante, ainda não podemos dizer:

Elevei ao Senhor minha voz”.

Tem o direito de proferi-lo apenas a alma que, sozinha, e sem levar para a oração nada de carnal e de preocupações materiais, falar ao Senhor lá onde só ele ouve. Isso se chama clamor, devido a sua intensidade.

E ele me ouviu de seu monte santo”.

O profeta dá ao Senhor o nome de monte, na passagem onde está escrito que a pedra deslocada, sem intervenção de mão alguma, cresceu até o tamanho de um monte (Dn 2,35).

Mas isto não se pode referir a sua pessoa, a menos que tenha querido afirmar: De mim, como de seu monte santo, ouviu-me, desde que habitava em mim, isto é, no próprio monte. Seria, contudo, mais simples e fluente entender que Deus o ouviu por causa de sua justiça; pois era justo que Deus ressuscitasse dos mortos o inocente, ao qual o bem fora retribuído com o mal, e desse aos perseguidores a condigna paga. Lemos, de fato:

A tua justiça é como as montanhas de Deus(Sl 35,7).



§ 5
6 “Adormeci, caí em sono profundo”.

Pode-se observar com acerto ter sido escrito “eu” para denotar ter ele suportado a morte voluntariamente, segundo a palavra:

O Pai me ama, porque dou a minha vida para retomá-la. Ninguém ma arrebata, mas eu a dou livremente. Tenho poder de retomá-la(Jo 10,17.18).

Não fostes vós, disse ele, que me prendestes e matastes contra a minha vontade, mas “eu adormeci, caí em sono profundo. Despertei, porque o Senhor me acolherá”.

Inumeráveis passagens das Escrituras trazem sono ao invés de morte, segundo diz também o Apóstolo:

Irmãos, não queremos que ignoreis o que se refere àqueles que adormeceram(1 Ts 4,12).

É desnecessário procurar a razão por que se acrescentou “caí em sono profundo”, se já fora dito “adormeci”.

As Escrituras empregam tais repetições. Já mostramos muitas no salmo segundo. Alguns códices trazem “adormeci, dormi”, e outros ainda empregam termos diferentes, numa tentativa de traduzir do grego: egò dé ekoiméthen kaì hípnosa. A não ser que se conceba o adormecer para o moribundo e o sono para a morte, de tal forma que o adormecer seja a passagem ao sono, como o acordar é a passagem para o estado de vigília. Não julguemos vãos ornamentos de linguagem estas repetições nos livros divinos. Com acerto, portanto, interpreta-se “adormeci, caí em sono profundo” da seguinte maneira: Permiti que me sobreviesse a paixão e se seguisse a morte.

Despertei, porque o Senhor me acolherá”.

Note-se que numa só frase os verbos estão no pretérito e no futuro, pois disse:

Despertei” no passado, e:

me acolherá”, no futuro. Na verdade, eu não ressuscitaria sem aquele apoio. Nas profecias, porém, o futuro se mistura perfeitamente com o passado, para significar ambos, uma vez que as coisas profetizadas, segundo o tempo são futuras; no intelecto dos profetas, contudo, são tidas por realizadas. Mesclam-se igualmente com verbos no presente, os quais, quando ocorrem, serão tratados em seu lugar.



§ 6
7 “Não temerei a multidão que me cerca”.

Consta no Evangelho ter sido grande a multidão ao redor do Senhor, padecente e crucificado (Mt 27,39ss).

Ergue-te, Senhor! Salva-me, ó meu Deus”! Não é a um Deus adormecido ou prostrado que se clama:

Ergue-te”! Mas, é costume das Sagradas Escrituras atribuir a Deus aquilo que ele faz em nós, embora não em todas as passagens, e sim onde tal se pode dizer de maneira conveniente. Por exemplo, diz-se que ele fala, quando por sua graça falam os profetas, ou os apóstolos, ou algum pregador da verdade. Daí a palavra:

Procurais uma prova de que é Cristo que fala em mim(2 Cor 13,3).

Não declara: Falo quando ele me ilumina e ordena, mas atribui a própria fala àquele por cujo dom falava.



§ 7
8 “Feriste a todos os que sem motivo me hostilizam”.

Não se considere uma frase só:

Ergue-te, Senhor! Salva-me, ó meu Deus, porque feriste a todos os que sem motivo me hostilizam”.

Não o salvou porque feriu os inimigos; ao invés, salvou-o e depois os feriu. Liga-se, portanto, ao que segue, de sorte que o sentido é o seguinte:

Feriste a todos os que sem motivo me hostilizam. Quebraste os dentes aos pecadores”, isto é, quebraste os dentes aos pecadores, porque feriste a todos os que me hostilizam. O castigo dos inimigos consistiu em terem os dentes quebrados, quer dizer, as palavras dos pecadores, que dilaceravam com injúrias o Filho de Deus, foram anuladas, reduzidas a pó. Por dentes entendamos as palavras maldizentes, às quais se refere o Apóstolo:

Mas se vos mordeis, cuidado, não aconteça que vos elimineis uns aos outros(Gl 5,15).

É possível também dar a dentes dos pecadores a acepção de príncipes dos pecadores, por cuja autoridade alguém se separa da sociedade dos honestos e se incorpora de certo modo aos que vivem mal. Opostos a tais dentes são os da Igreja, por cuja autoridade os fiéis se apartam do erro dos gentios e de várias seitas e se transferem para a Igreja, Corpo de Cristo. Com estes dentes, Pedro recebeu a ordem de comer dos animais imolados (At 10,13), isto é, de matar nos gentios o que eles eram e transformá-los no que era o próprio Pedro. Destes dentes da Igreja se disse:

Teus dentes são como um rebanho tosquiado que sobe do lavadouro, cada ovelha com seus gêmeos, nenhuma delas sem cria(Ct 4,2; 6,5).

São os que mandam com retidão e vivem conforme o que ordenam; praticam o preceito:

Brilhem vossas obras diante dos homens, para que glorifiquem vosso Pai que está nos céus(Mt 5,16).

Impressionados pela autoridade daqueles, por cujo intermédio Deus fala e opera, os homens acreditam; separados do século, ao qual se haviam conformado, passam a ser membros da Igreja. Com razão, esses intermediários chamam-se dentes semelhantes a ovelhas tosquiadas: largaram o peso das preocupações terrenas e subindo do lavadouro, da ablução das imundícies do século, pelo sacramento do batismo, dão à luz gêmeos. Praticam, efetivamente, os dois preceitos, dos quais se afirmou:

Desses dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas(Mt 22,40), amando a Deus de todo o coração, de toda a alma e de todo o espírito, e ao próximo como a si mesmos. Entre eles não existe estéril, visto produzirem tais frutos para Deus. Neste sentido se entende:

Quebraste os dentes aos pecadores”, a saber, aniquilaste os príncipes dos pecadores, ferindo a todos os que me hostilizavam sem motivo. Segundo a narrativa evangélica, perseguiram-no os príncipes, enquanto a multidão de posição inferior o honrava.



§ 8
9 “Do Senhor vem a salvação. Sobre o teu povo, a tua bênção”.

Em uma só sentença mostrou aos homens o que devem crer e orou pelos fiéis; pois ao asseverar “do Senhor vem a salvação”, dirige-se aos homens. Se prossegue:

Sobre o teu povo, a tua bênção”, não se refere tudo aos homens, mas se volta para o próprio Deus, em favor do povo ao qual foi afirmado:

do Senhor vem a salvação”.

Disse, portanto, apenas o seguinte: Ninguém presuma de si mesmo, porque a salvação da morte do pecado provém do Senhor; pois, “Infeliz de mim! Quem me libertará deste corpo de morte? A graça de Deus, por Jesus Cristo, Senhor nosso (Rm 7,24.25).

Tu, porém, Senhor, abençoa o teu povo, que de ti espera a salvação.



§ 9
Este salmo é aplicável ainda à pessoa de Cristo de outro modo, isto é, que fala como um todo. Todo, digo, com o Corpo do qual ele é a Cabeça, segundo a palavra do Apóstolo:

Vós sois o corpo de Cristo e sois os seus membros(1 Cor 12,27); portanto, ele é a Cabeça deste corpo. Por esta razão, diz o Apóstolo em outra passagem:

Seguindo a verdade em amor, cresceremos em tudo em direção àquele que é a Cabeça, Cristo. É por ele que todo o corpo é coordenado e unido(Ef 4,15.16).

Falam pois, segundo o Profeta, simultaneamente a Igreja e sua Cabeça, no meio das procelas das perseguições em todo o orbe da terra, conforme sabemos já haver acontecido:

Como, Senhor, se multiplicaram os que me afligem! Numerosos os que se insurgem contra mim!” querendo exterminar o nome dos cristãos.

São muitos a dizer a minha alma: Para ele não há salvação junto de Deus”.

Não contariam arruinar a Igreja, largamente difundida, se acreditassem estar ela sob os cuidados de Deus.

Tu, porém, Senhor, és o meu abrigo”, a saber, em Cristo. Pois, naquela natureza humana também a Igreja foi assumida pelo Verbo, que se fez carne, e habitou entre nós (Jo 1,14).

Também nos fez sentar com ele nos céus (Ef 2,6).

A Cabeça precede, seguem-se os demais membros.

Quem nos separará do amor de Cristo(Rm 8,25)? Com toda razão exclama igualmente a Igreja:

Tu és o meu abrigo, a minha glória”.

Não atribui a si mesma a exaltação, sabendo donde lhe provém tal graça e misericórdia.

E ergues a minha cabeça”, a saber, aquele que, sendo o primogênito dentre os mortos, subiu ao céu.

Elevei a minha voz ao Senhor e ele me ouviu de seu monte santo”.

Eis a oração de todos os santos, odor suave que sobe à presença do Senhor. A Igreja, portanto, já é ouvida do próprio monte, que é ainda a sua Cabeça; ou por aquela justiça de Deus, que liberta os seus eleitos e pune os perseguidores deles. Fale igualmente o povo de Deus:

Adormeci, caí em sono profundo. Despertei, porque o senhor me acolherá”, para se unir e aderir a sua Cabeça. Este povo foi interpelado:

Ó tu, que dormes, desperta e levanta-te de entre os mortos, que Cristo te tocará(Ef 5,14)1, porque foi tirado do meio dos pecadores, sobre os quais foi dito, em geral:

Quem dorme, dorme de noite(1 Ts 5,7).

Prossiga ainda:

Não temerei a multidão que me cerca”, os povos sitiantes, para extinguir, se possível, o nome de cristão. Mas como serão temidos, se o sangue dos mártires em Cristo é óleo que inflama o ardor da caridade? “Ergue-te, Senhor! Salva-me, ó meu Deus”! É o que o corpo pode dizer à Cabeça. O povo se salvou quando a Cabeça se ergueu, subiu ao alto, levou consigo os cativos, distribuiu dons aos homens (Sl 67,19).

Afirma-o o Profeta, visando à predestinação, enquanto a messe madura mencionada no Evangelho (Mt 9,37) fez descer nosso Senhor à terra. A salvação desta messe se encontra na ressurreição daquele que por nós se dignou morrer.

Feriste a todos os que sem motivo me hostilizam. Quebraste os dentes aos pecadores”.

Já está reinando a Igreja. Os inimigos do nome de cristão foram cobertos de vergonha e estão reduzidas a nada as suas maldições, o seu principado. Acreditai, portanto, ó homens.

Do Senhor vem a salvação. E” tu, Senhor, “faze descer a tua bênção sobre o teu povo”.



§ 10
Cada um de nós também pode dizer, quando a multidão dos vícios e desejos arrasta, sob a lei do pecado, a mente que resiste:

Senhor, como se multiplicaram os que me afligem. Numerosos os que se insurgem contra mim!” Visto que, muitas vezes, devido ao acúmulo de vícios, insinua-se a desesperança da cura, como se os próprios vícios assaltassem a alma, ou ainda agissem também o diabo e seus anjos, com más sugestões, para desesperarmos, é bem verdade que “são muitos a dizer a minha alma: Para ele não há salvação junto de Deus. Tu, porém, Senhor, és o meu abrigo”.

A esperança reside em que o Senhor se dignou assumir a natureza humana em Cristo.

A minha glória”, segundo a norma de que ninguém atribua a si mesmo coisa alguma.

E ergues a minha cabeça”.

Seja a Cabeça de todos nós, ou o espírito de cada um, que serve de cabeça à alma e à carne.

Pois, a cabeça de todo o homem é Cristo, a cabeça da mulher é o homem(1 Cor 11,3).

A mente é exaltada, se lhe é já possível afirmar:

Pela razão sirvo à lei de Deus(Rm 7,25), de maneira que as outras partes do homem pacificadas se submetam, quando pela ressurreição da carne, a morte for absorvida na vitória (1 Cor 15,54).

Elevei a minha voz, clamei ao Senhor”, com aquela voz íntima, muito intensa.

E ele me ouviu de seu monte santo”, daquele monte pelo qual nos socorre, por cuja mediação ele nos atende.

Adormeci, caí em sono profundo. Despertei, porque o Senhor me acolherá”.

Qual o fiel que assim não se pode expressar, lembrado da morte causada por seus pecados e do dom da regeneração? “Não temerei a multidão que me cerca”.

Além das tribulações que a Igreja em geral suportou e suporta, cada qual tem as suas tentações, e quando se vê cercado por elas exclama:

Ergue-te, Senhor! Salva-me, meu Deus!” isto é, faze com que me levante.

Feriste a todos os que sem motivo me hostilizam”.

Com acerto se afirma a respeito da predestinação que o diabo e seus anjos se enfurecem não só contra todo o corpo de Cristo, mas ainda contra cada um em particular.

Quebraste os dentes aos pecadores”.

Todo homem tem seus caluniadores e instigadores de vícios, empenhados em amputá-lo do Corpo de Cristo.

Mas do Senhor vem a salvação”.

Precavido contra a soberba diga ele:

A minha alma aderiu a ti(Sl 62,9).

Sobre o teu povo, a tua bênção”, isto é, sobre cada um de nós. 1 Em vez de (iluminará) Sto. Agostinho lia (tocará) (N. dos Maurinos)