ORAÇÃO ⁜ SALMO DA BÍBLIA № 142 | ||
§ 142:1 | Ƈ Com a minha voz clamo ao Senhor; com a minha voz ao Senhor suplico. | |
§ 142:2 | Ɗ Derramo perante ele a minha queixa; diante dele exponho a minha tribulação. | |
§ 142:3 | Ꝙ Quando dentro de mim esmorece o meu espírito, então tu conheces a minha vereda; no caminho em que eu ando ocultaram-me um laço. | |
§ 142:4 | Ꝋ Olha para a minha mão direita, e vê, pois não há quem me conheça; refúgio me faltou; ninguém se interessa por mim. | |
§ 142:5 | Ɑ A ti, ó Senhor, clamei; eu disse: Tu és o meu refúgio, o meu quinhão na terra dos viventes. | |
§ 142:6 | Ɑ Atende ao meu clamor, porque estou muito abatido; livra-me dos meus perseguidores, porque são mais fortes do que eu. | |
§ 142:7 | Ŧ Tira-me da prisão, para que eu louve o teu nome; os justos me rodearão, pois me farás muito bem. | |
O SALMO 142 | ||
SERMÃO AO POVO 💬 | ||
§ 1 | Do salmo que cantamos, falarei a V. Caridade o que o Senhor me conceder falar. Ontem comentamos um salmo mais curto, mas o tempo de que dispúnhamos possibilitou-nos dizer muito sobre poucos versículos; agora, visto que o salmo é mais longo, não devemos deter-nos tanto em cada versículo, a fim de não acontecer que o Senhor não nos dê a faculdade de percorrê-lo por inteiro. | |
§ 2 | 1 O título do salmo é: “De Davi, quando seu filho o perseguia”. Pelo livro dos Reis sabemos que isto aconteceu, que Absalão se tornou inimigo do pai, fez não só guerra civil contra ele, mas também criou uma luta doméstica. Davi, porém, não se abateu iniquamente, mas humilhou-se com piedade, aceitou a correção da parte do Senhor, suportou o medicinal tratamento; não retribuiu maldade com maldade, mas de coração pronto aceitou a vontade do Senhor (2Sm 1,5,16). Aquele Davi foi deste modo digno de louvor; mas devemos reconhecer outro Davi, verdadeiramente Mão forte (assim se traduz a palavra Davi), nosso Senhor Jesus Cristo. Aqueles feitos passados eram figuras do futuro; não preciso recomendar longamente o que ouvistes com freqüência, e guardais muito bem na memória. Procuremos, portanto, neste salmo a profecia, em que nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo, anuncia-se a si mesmo, e apregoa o que realizaria hoje, por meio dos fatos de outrora. Com efeito, ele anunciava-se a si mesmo, através dos profetas, porque ele é o Verbo de Deus e os profetas não podiam dizer tais coisas se não estivessem repletos do Verbo de Deus. Por conseguinte, eles anunciavam o Cristo, repletos de Cristo; precediam aquele que haveria de vir, e que não abandonava os seus antecessores. Reconheçamos ainda como também a Cristo o filho perseguia; pois tinha filhos dos quais declarava: Os filhos do esposo não jejuam, enquanto o esposo está com eles. “Dias virão, quando o esposo lhes será tirado; então, sim, jejuarão” (cf Mt 9,15). Em conseqüência, filhos do esposo são os apóstolos: e entre eles, Judas, o perseguidor, um diabo. Neste salmo o próprio Cristo apregoa a paixão. Ouçamos. | |
§ 3 | Novamente chamamos a atenção de V. Caridade, não para ensinar o que ignorais, mas para admoestar acerca do que conheceis. Nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo é Cabeça de seu corpo, ele, um só mediador entre Deus e os homens, um homem, Cristo Jesus (1 Tm 2,5), nascido da virgem, como que no deserto, conforme ouvimos do Apocalipse (Ap 12,5-6). No deserto, a meu ver, porque somente ele nasceu desta forma. Aquela mulher o deu à luz, para reger o povo com um cetro de ferro. Esta mulher, porém, é a antiga cidade de Deus, mencionada no salmo: “coisas gloriosas são ditas de ti, cidade de Deus”. Esta cidade começou com Abel, como a cidade má principiou com Caim. Por conseguinte, esta antiga cidade de Deus, que sempre suporta males na terra, que espera o céu, e também é chamada Jerusalém e Sião. Este salmo refere-se, de fato, a alguém que nasceu em Sião e é fundador da mesma Sião: “Sião, minha mãe, dirá um homem”. Qual? “O homem que nasceu nela e o próprio Altíssimo a fundou” (Sl 86,3.5). Enfim, ele mesmo se fez homem em Sião, mas fez-se homem humildemente; e o próprio Altíssimo fundou a cidade, em que ele se fez homem. Com efeito, aquela mulher estava vestida de sol (cf Ap 12,1), o sol de justiça que os ímpios não conhecem; e dirão no fim: “Sim, extraviamo-nos do caminho da verdade; a luz da justiça não brilhou para nós, para nós não nasceu o sol” (Sb 5,6). Existe, pois, certo sol de justiça que não nasce para os ímpios. Além disso, Deus faz este sol nascer para bons e maus (cf Mt 5,45). A mulher do Apocalipse estava revestida do sol, e trazia nas entranhas um nascituro. Era o fundador de Sião e nascia em Sião; e aquela mulher, aquela cidade de Deus, era protegida pela luz daquele cuja carne ela gerava. Com razão, tinha ela sob os pés a luz, porque calcava por seu poder a mortalidade da carne que crescia e decrescia. Ora, o Senhor Jesus Cristo é Cabeça e corpo; quis falar em nosso lugar aquele que se dignou morrer por nós; fez de nós seus membros. Por vezes, então fala em lugar de seus membros, ou fala em seu próprio nome, enquanto nossa Cabeça. Tem algo a dizer sem nós; mas nós, sem ele, nada podemos dizer. Declara o Apóstolo: “Completo, na minha carne, o que falta das tribulações de Cristo (Cl 1,24). Completo o que falta das tribulações de Cristo”, não minhas; “na carne”, não de Cristo, e sim “minha”. Cristo ainda sofre tribulação, não em sua carne, pois esta subiu ao céu, mas em minha carne, que ainda labuta na terra. Cristo sofre tribulação em minha carne: “Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Com efeito, se Cristo também em seus membros isto é, em seus fiéis, não sofresse opressão, Saulo na terra não teria perseguido a Cristo, sentado nos céus. Finalmente, claramente o Apóstolo o expõe em determinada passagem: “Com efeito, o corpo é um e, não obstante, tem muitos membros, mas todos os membros do corpo, apesar de serem muitos, formam um só corpo. Assim também acontece com Cristo” (1 Cor 12,12). Ele não disse: Assim acontece com Cristo e o seu corpo; mas: “O corpo é um e tem muitos membros. Assim acontece com Cristo”. O todo, portanto, é Cristo; e como o todo é Cristo, a Cabeça clama do céu: “Saulo, Saulo, por que me persegues”? (At 9,4). Guardai estas palavras, e conservai-as firmemente na memória, como filhos que conhecem os ensinamentos e a fé da Igreja católica, reconhecendo Cristo Cabeça e corpo, e o mesmo Cristo, Verbo de Deus unigênito, igual ao Pai; e daí ponderai a imensa graça de atingirdes a Deus, de tal sorte que ele quis ser um conosco, sendo um com o Pai. E como é um com o Pai? “eu e o Pai somos um” (Jo 10,30). E como é um conosco? Diz o Apóstolo: “Não diz: E aos descendentes, como referindo-se a muitos, mas como a um só: e à tua descendência, que é Cristo” (Gl 3,16). Mas dirá alguém: Se Cristo é da descendência de Abraão, nós também o somos? Recordai que Cristo é da descendência de Abraão; então, se somos da descendência de Abraão, somos também nós Cristo. “O corpo é um e, não obstante, tem muitos membros. Assim também acontece com Cristo. Todos vós, que fostes batizados em Cristo vos vestistes de Cristo”. Portanto, Cristo é da descendência de Abraão; nem é possível contradizer-se às palavras bem claras do Apóstolo: “E à tua descendência, que é Cristo”. Vede o que ele nos assegura: “E se vós sois de Cristo, então sois descendência de Abraão” (Gl 3,27.29). É grande este mistério: “E eles se tornam uma só carne” (Gn 2,24). Afirma o Apóstolo: “É grande este mistério; refiro-me à relação entre Cristo e a sua Igreja” (Ef 5,32). Cristo e a Igreja, dois numa só carne. Dois, por causa da distância que provém da majestade de Cristo. Dois, na verdade. Pois, não somos o Verbo, nem éramos no princípio Deus junto de Deus, nem éramos aquele pelo qual tudo foi feito. Veio encarnar-se, e então Cristo é ele e somos nós (cf Jo 1,1ss). Por isso não nos cause admiração o que se encontra nos salmos. Muitas coisas neles são ditas pela Cabeça, muitas pelos membros; e no entanto o todo fala como se fosse um só. Não é espantoso serem dois numa só voz, se não dois numa só carne. | |
§ 4 | Judas, filho do esposo, perseguiu o esposo. Aconteceu naquele tempo; seria apresentado como exemplo para o futuro? De fato, a Igreja haveria de sofrer da parte de muitos falsos irmãos, de forma que agora e até o fim, o filho persiga o esposo. Com efeito, “se me exprobrasse um inimigo decerto o suportaria. E se o que me odiava proferisse insolência, dele me esconderia” (Sl 54,13). Quem é o inimigo? Qual o que me odiava? Aquele que pergunta: Quem é o Cristo? Cristo foi um homem, não pôde continuar a viver, quando queria viver. E morreu, dizem eles, contra a vontade, vencido, cruficicado, morto. Assim falam os inimigos. Diz Cristo! Este é um inimigo declarado, que me odeia, ataca-me com inimizade aberta; é fácil tolerar ou evitar a este; mas, que faço de Absalão? Que faço de Judas? Que faço dos falsos irmãos? Que faço dos filhos malvados, não obstante meus filhos, que contra nós não blasfemam a Cristo, mas conosco adoram a Cristo e o perseguem em nós? Acerca deles conseqüentemente diz o mesmo salmo: Seria fácil suportar outro, que me odiasse; ou esconder- me dele. Escondes-te de um pagão, entrando na igreja. Quando, porém, lá dentro encontras aquele que temes, por que procuras onde te esconder? Enfim, o próprio Apóstolo geme por causa dos perigos ocasionados por falsos irmãos: “Por fora, lutas; por dentro, temores” (2 Cor 7,5). “Se, portanto, o que me odiava proferisse insolências, dele me esconderia. Mas és tu, meu companheiro” (Sl 54,13.14). Denomina-o companheiro unânime, como sendo um em Cristo. Por isso, a Igreja tem o que suportar fora e por que gemer dentro; considera os inimigos dentro e fora; os de fora são mais fáceis de evitar, os de dentro, mais difíceis de tolerar. | |
§ 5 | Diga, então nosso Senhor, conosco fale Cristo, o Cristo total: “Senhor, escuta a minha oração, presta ouvidos a minha súplica. Escuta e presta ouvidos”; é a mesma coisa, é repetição, confirmação. “Atende-me em tua verdade, em tua justiça”. Não tomeis a expressão: “em tua justiça” com qualquer acepção. Está sendo recomendada a graça, a fim de que não julgue cada um de nós tratar-se de sua própria justiça. Justiça de Deus é aquela que ele te comunicou para que a possuas. Que afirma o Apóstolo dos que quiseram gloriar-se de sua própria justiça? “Eu lhes rendo testemunho de que têm zelo de Deus”. Falando dos judeus, ele declara: “Têm zelo de Deus, mas não é um zelo esclarecido” (Rm 10,2). Que quer dizer: “não esclarecido?” Qual a ciência útil que tu recomendas? Seria aquela que se estiver sozinha incha? Que se não for acompanhada da caridade, não edifica? (1 Cor 8,1). Certamente, não; porém aquela que é companheira da caridade, mestra da humildade. Vê se é esta: “Têm zelo de Deus, mas não é um zelo esclarecido”. Exponha o que ele chama de ciência: “Desconhecendo a jus-tiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à justiça de Deus” (Rm 10,3). Quais, então, os que querem estabelecer a sua própria justiça? Os que imputam a si mesmos o bem que fizerem, e o mal a Deus; inteiramente perversos. Enfim, serão retos quando inverterem isto. Por isso és perverso; atribues o que está mal a Deus e o que está bem a ti; serás reto quando atribuíres a ti mesmo o mal que fizeres e o bem a Deus. Pois, de ímpio que eras não viverias na justiça se não te tornasse justo aquele que justifica o ímpio (cf Rm 4,5). Em conseqüência: “Atende-me em tua verdade, em tua justiça”, não em minha justiça, a fim de ser achado nele, não tendo a minha justiça, que vem da lei, mas a justiça que vem da fé (cf Fl 3,9). Eis por que: “Atende-me em tua justiça”. Se considero a mim mesmo, nada encontro a não ser meu pecado. | |
§ 6 | 2 “Não entres em juízo com teu servo”. Quais os que querem entrar em juízo com ele, senão os que desconhecendo a justiça de Deus, procuram estabelecer a sua própria? “Por que temos jejuado e tu não o vês? Temos mortificado as nossas almas e tu não tomas conhecimento disso”? (Is 58,3). Como se dissessem: Fizemos o que mandaste; por que não dás o que prometeste? Deus te responderá: A fim de poderes receber o que prometi, eu darei os meios para isso; a fim de fazeres com que recebas, eu dei. Afinal, o profeta se dirige a tais soberbos: “Por que pleiteais comigo? Vós todos vos rebelastes contra mim, oráculo do Senhor” (Jr 2,29). Por que quereis pleitear comigo, e relembrar as vossas justiças? Relembrai vossas justiças; eu conheço os vossos crimes. Como aprovarei a justiça naqueles em quem condeno a soberba? Com razão, o salmista, humilde no corpo de Cristo, aprendendo da Cabeça a ser manso e humilde de coração, diz (cf Mt 11,29): “Não entres em juízo com teu servo”. Não entremos em litígio; não quero ter uma questão contigo, proponho eu a minha justiça e tu, convencendo-me de minha iniqüidade: “Não entres em juízo com teu servo”. Por que isto? Por que motivo tem medo? “Porque não se justifica na tua presença nenhum vivente”. Nenhum vivente, a saber, que viva na terra, que viva na carne, que viva para morrer, nascido como homem, recebendo a vida através dos homens, de Adão, de Adão vivo; todo aquele que vive assim talvez possa justificar-se diante de si mesmo, mas não na tua presença. Como diante de si? Agradando a si próprio, desagradando a ti: “na tua presença”, porém, “não se justifica nenhum vivente”. Portanto, não entres em juízo comigo, Senhor, meu Deus. Por mais reto que me considere, tiras de teu tesouro uma régua, medes-me junto dela, e aparece como sou ruim. “Não entres em juízo com teu servo”. Ótimo: “com teu servo”. Não é conveniente que entres em juízo com teu servo; nem mesmo com teu amigo. Não terias dito: “Meus amigos, eu vos digo” (Lc 1,24), se não fizesses de teus servos, teus amigos. Apesar de me chamares amigo, confesso-me teu servo; preciso de misericórdia, volto como fugitivo, procuro fazer as pazes; não sou digno de ser chamado teu filho: “Não entres em juizo com teu servo, porque não se justifica na tua presença nenhum vivente. Antes da morte não beatifiques a ninguém” (Eclo 11,30); absolutamente, “nenhum vivente”. E então, os próprios cordeiros, os apóstolos, de cuja prole diz o salmo: “Trazei ao Senhor cordeirinhos”? (Sl 8,1). Dentre eles, Paulo, que declara não ser perfeito: “Não que eu o tenha alcançado ou que já seja perfeito” (Fl 3,12). Finalmente, irmãos, para logo o saberdes, eles aprenderam a rezar conforme nós oramos, foi-lhes dada a regra das preces pelo jurisperito celeste. Disse ele: “Orai desta maneira”. Após algumas petições prévias, apresentou a seguinte, a fim de que a repetissem nossos cordeiros, os guias das ovelhas, os membros principais do Pastor que congrega um só rebanho: eles aprenderam a rezar: “Perdoa as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores” (Mt 6,9.12). Não disseram: Graças a ti, porque perdoaste as nossas dívidas, como também nós perdoamos aos nossos devedores; e sim: “Perdoa, assim como nós perdoamos”. Efetivamente rezavam já sendo fiéis, já sendo apóstolos; pois esta oração dominical é entregue antes aos fiéis. Se aquelas dívidas só se referissem às que são perdoadas no batismo, conviria mais aos catecúmenos rezar: “Perdoa as nossas dívidas”. Digam, portanto, os apóstolos, digam: “Perdoa as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores”. E se forem interrogados: Por que falais assim? Quais as vossas dívidas? Respondam: “Porque não se justifica na tua presença nenhum vivente”. | |
§ 7 | 3 “Porque o inimigo perseguiu a minha alma. Calcou na terra a minha vida”. Vê; somos nós, é a nossa Cabeça falando por nós: “Porque o inimigo perseguiu a minha vida”. O diabo também perseguiu certamnte a alma de Cristo, e Judas a alma do mestre; e agora, na perseguição ao corpo de Cristo permanece o mesmo diabo; Judas, porém, teve outro Judas por sucessor. Pois, não falta motivo para o corpo afirmar: “Porque o inimigo perseguiu a minha alma. Calcou na terra a minha vida. Calcou”, diz ele, “na terra a minha vida”. Em outro salmo encontra-se: “Mantinham curvada a minha alma” (Sl 56,7). A que visa todo perseguidor senão fazer com que, abandonando a esperança celeste apreciemos a terra, e cedendo ao perseguidor, amemos os bens terrenos? Eles, de fato, na medida que podem, fazem isto; a nós, contudo, isto não suceda, pois foi-nos dito: “Se, pois, ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Pensai nas coisas do alto, e não nas da terra, pois morrestes” (Cl 3,1-3). Efetivamente, não se justifica em sua presença nenhum vivente. Os perseguidores abertamente enfurecidos ou armando insídias ocultamente empenham-se em calcar na terra a nossa vida; contra eles estejamos vigilantes, a fim de podermos asseverar: “A nossa cidade está nos céus” (Fl 3,20). O inimigo “calcou na terra a minha vida”. | |
§ 8 | “Colocou-me em lugares tenebrosos, como a mortos do mundo”. Imediatamente ouvistes isso como sendo atinente à Cabeça, e reconheceis logo que se aplica à Cabeça. Pois, Cristo morreu por nós, mas não como a mortos do mundo. Quais são os mortos do mundo? E como ele não era morto do mundo? Mortos do mundo são os que mereceram a morte, e recebem a paga da iniqüidade, e morrem por causa da transmissão do pecado, conforme a palavra: “Eis que fui concebido na iniqüidade e em pecado me gerou minha mãe” (Sl 50,7). Cristo veio, assumindo a carne no seio da virgem, mas não a iniqüidade da carne; assumiu uma carne pura e purificadora. Os ímpios, contudo, julgando-o pecador, consideravam-no como morto do mundo. Mas o Senhor que disse: “Restituía o que não roubei” (Sl 68,5), e que declarou no evangelho: “O príncipe do mundo vem”, o preposto à morte, conselheiro persuasivo do mal, cobrador de um castigo, sobre ele disse: “Vem; contra mim, ele nada encontra” (Jo 14,30). Que significa: “Contra mim, ele nada encontra?” Não encontra culpa alguma, nada que me faça réu da morte. “Mas o mundo saberá que amo o Pai e faço como o Pai me ordenou. Levantai-vos! Partamos daqui”! (Jo 14,30.31). Morro para cumprir a vontade de meu Pai, mas não mereço a morte. Nada fiz para merecer a morte, mas procuro a morte a fim de libertar pela morte de um inocente os culpados que deviam morrer. “Colocou-me em lugares tenebrosos”, tais como a região dos mortos, como o sepulcro, como a própria paixão; “como a mortos do mundo”, aquele que disse: “Sou como um homem sem amparo, livre entre os mortos” (Sl 87,5.6). Que é “livre?” Por que motivo “livre?” Porque quem comete pecado é escravo do pecado (cf Jo 8,34). Além disso, não libertaria dos vínculos, se não estivesse livre de vínculos. Ele que estava livre matou a morte, prendeu os vínculos, levou cativo o cativeiro, e o colocaram em lugares tenebrosos, como a mortos do mundo. | |
§ 9 | 4 “O tédio apoderou-se de meu espírito”. Lembrai-vos da palavra: “A minha alma está triste até a morte” (Mt 26,38). Notai que é uma só voz. Mas, não é evidente a passagem da Cabeça aos membros e dos membros à Cabeça. “O tédio apoderou-se de meu espírito”. Reconhecemos a expressão: “A minha alma está triste até a morte”. Mas nós estávamos ali. Pois ele transfigurou o nosso corpo humilhado, conformando-o ao seu corpo glorioso (Fl 3,21); nosso velho homem foi crucificado com ele (cf Rm 6,6). “Meu coração se perturbou dentro de mim”. Dentro de mim, diz o salmista, não nos outros. Pois, os outros me abandonaram, os amigos se afastaram, e pensaram de mim coisa diferente, porque me viam morrer; e foram superados pelo ladrão, que acreditou quando os outros falharam (cf Lc 23,40). | |
§ 10 | 5 Daí em diante, falam os membros. “Lembrei-me dos dias antigos”. Acaso se lembrou dos dias antigos aquele que fez todos os dias? Mas é o corpo que fala, fala cada um dos que foram justificados por sua graça, unidos a ele pela caridade e devota humildade; fala nos seguintes termos: “Lembrei- me dos dias antigos; meditei sobre todas as tuas obras”. Com efeito, tu fizeste boas todas as coisas, e nada existiria se não lhes desses a existência. Tua criação tornou-se um espetáculo para mim; na obra procurei o artífice, e na criatura, o Criador. Por que razão? Se o salmista não tivesse entendido que tudo o que há de bom foi feito por ele, desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não estaria submisso à justiça de Deus (cf Rm 10,3), como lhe conviria aquela palavra acima proferida: “Em tua verdade e em tua justiça?” Por isso, em todas as obras de Deus e na meditação de todas as obras de Deus ele sugere a graça, recomenda a graça, gloria-se de ter encontrado a graça, a graça pela qual gratuitamente somos salvos; porque fomos salvos gratuitamente. Por que te glorias de tua justiça? Por que te exaltas, ignorando a justiça de Deus? Talvez tenhas dado alguma coisa para seres salvo? Que deste para seres homem? Olha, portanto, para o criador de tua vida, autor de tua substância, da justiça e da salvação. “Medita sobre todas as suas obras”, e verás que vem de suas mãos a justiça que há em ti. Escuta como o Apóstolo te ensina: “Não vem das obras, para que ninguém se encha de orgulho”. Não praticamos boas obras? Certamente, mas nota como ele continua: “Pois somos criaturas dele. Criaturas dele”, talvez tenha querido relembrar nossa natureza humana, sob o apelativo de criatura? Não; ele falava a respeito das obras. “Não vem das obras, para que ninguém se encha de orgulho”. Mas não façamos conjecturas; ele prossegue: “Pois somos criaturas dele, criados em Cristo Jesus para as boas obras” (Ef 2,9.10). Não julgues, portanto, que fazes alguma coisa, a não ser enquanto és mau. Afasta-te de tua obra, aproxima-te da obra daquele que te fez; ele é quem forma, é ele quem há de reformar o que formara e tu estragaste. Ele agiu para que tu sejas; para que sejas bom, se és bom, ele mesmo opera. Diz o Apóstolo: “Operai a vossa salvação com temor e tremor”. Se trabalhamos em nossa própria salvação, porque o faremos com temor e tremor, se está em nosso poder aquilo que fazemos? Ouve porque deve ser com temor e tremor: “Pois é Deus que opera em vós o querer e o operar, segundo a sua vontade” (Fl 2,12. 13). Por conseguinte, com temor e tremor, para que a nosso artífice apraza operar no vale. Aquele que julga as nações e enche de ruínas, assim age entre os que estão abatidos. “Meditei sobre as obras de tuas mãos”. | |
§ 11 | 6 E que fiz, ao verificar que todo dom precioso e toda dádiva perfeita vem do alto, descendo do Pai das luzes, no qual não há mudança, nem sombra de variação? (cf Tg 1,17). Vendo isso, apartei- me da bora má que fizera em mim, e “estendi a ti as minhas mãos. A ti estendi as minhas mãos; como terra sem água minha alma está diante de ti”. Diz o salmista: Faze com que chova sobre mim, para que dê bons frutos. O Senhor dará a suavidade, para que nossa terra produza seu fruto (cf Sl 84,13). “A ti estendi as minhas mãos; como terra sem água minha alma está diante de ti não de mim. Posso ter sede de ti, mas não posso irrigar-me. “Como terra sem água minha alma está diante de ti”, porque minha alma tem sede do Deus vivo (cf Sl 41,3). Quando irei, a não ser quando ele vier? Minha alma tem sede do Deus vivo, porque “como terra sem água minha alma está diante de ti”. O mar tem água em superabundância, inunda, é imenso, flutua, mas é amargo. Foi separada a água e apareceu a terra seca (cf Gn 1,9) de minha alma. Irriga-a porque é “como terra sem água diante de ti”. | |
§ 12 | 7 “Escuta-me prontamente, Senhor”. Por que esta de-mora para inflamar minha sede, se de tal maneira estou sedento? Diferias a chuva, para que sorvendo-a embebesse, e não a menosprezasse quando caísse. Se a adiavas, dá agora, porque “como terra sem água minha alma está diante de ti. Escuta-me prontamente, Senhor; meu espírito desfaleceu”. Encha-me teu espírito, porque “meu espírito desfaleceu”. O motivo para ouvires logo está em que “meu espírito desfaleceu”. Tornei-me pobre em espírito; faze-me bem-aventurado no reino dos céus (cf Mt 5,3). Aquele que vive de seu espírito é soberbo; em seu espírito ele se exalta contra Deus. Convém-lhe o que foi escrito em outra passagem: “Se lhes retiras o espírito expiram e voltam para o pó de onde vieram” (Sl 103,29), a fim de que confessem: “Lembra-te de que somos pó” (Sl 102,14). Tendo eles dito: “Lembra-te de que somos pó”, então profiram: “Como terra sem água minha alma está diante de ti”. Que terra, de fato, é mais seca do que a poeira? Mas, “escuta-me prontamente, Senhor”. Que a chuva caia sobre mim, confirma-me, não seja como a poeira que o vento carrega da superfície da terra (cf Sl 1,4). “Escuta- me prontamente, Senhor, meu espírito desfaleceu”. Não se prolongue minha penúria. Retiraste-me o espírito para que desfaleça e volte para o pó de onde viera; dir-te-ei: “Como terra sem água a minha alma está diante de ti”. Faze igualmente aquilo que se encontra na continuação do mesmo salmo: “Enviarás teu espírito e serão criados e renovarás a face da terra” (Sl 103,30). Se alguém está em Cristo é nova criatura. Passaram-se as coisas antigas (cf 2Cor 5,17). Em seu espírito as coisas antigas passaram, em teu Espírito fizeram-se novas. | |
§ 13 | “Não me ocultes a tua face”. Tu a afastaste do soberbo. Efetivamente outrora tinha fartura, e nesta fartura, me orgulhara: Pois, outrora, “eu disse na prosperidade: Jamais serei abalado. Eu disse: Jamais serei abalado, na prosperidade”, ignorando a justiça de Deus, e estabelecendo a minha própria (cf Rm 10,3); “mas tu, Senhor, por tua benevolência, confirmaste a minha honra” (Sl 29,7). “Eu disse na prosperidade: Não serei abalado”; na verdade toda a minha abundância provinha de ti. E para provares que vinha de ti, “escondeste a tua face e fiquei perturbado” (Sl 29,8). Depois desta perturbação que me adveio por teres escondido de mim a tua face, depois do tédio que se apossou de meu espírito, depois que meu coração se perturbou dentro de mim por teres apartado a tua face, já me tornei como terra sem água diante de ti: “Não me ocultes a tua face”. Ocultaste do soberbo, mostra-a ao humilde. “Não me ocultes a tua face”, porque se a ocultares “serei semelhante aos que descem à fossa”. Que quer dizer: “os que descem à fossa? O pecador, chegando ao profundo dos males, despreza” (Pr 18,3). Descem à fossa os que depreciam a confissão; contra isso diz o salmo: “Nem a boca do poço se feche sobre mim” (Sl 68,16). A Escritura muitas vezes denomina essas profun-dezas de fossa; é nesta profundeza que o pecador que a atinge, despreza. Que significa: “despreza?” Pensa que já não existe providência; ou se o considera, julga que não o atinge. Propõe-se toda liberdade de pecar, soltando as rédeas da iniqüidade, porque perdeu a esperança do perdão. Não diz: Voltarei para Deus, a fim de que ele se volte para mim. Nem ouve a palavra: “Voltai a mim e eu voltarei a vós” (Ml 3,7). Porque chegou ao fundo dos males e despreza. “Para o morto, como se não existisse mais nada, o louvor acabou” (Eclo 17,26). Portanto, “não me ocultes a tua face, senão serei semelhante aos que descem à fossa”. | |
§ 14 | 8 “Faze-me ouvir de manhã a tua misericórdia, porque em ti esperei”. Eis que estou na noite; mas esperei em ti, até que passe a iniqüidade noturna (cf Sl 56,2). Diz S. Pedro: “Temos, também, por mais firme a palavra dos profetas, à qual fazeis bem em recorrer como a uma luz que brilha em lugar escuro, até que raie o dia e surja a estrela d’alva em nossos corações” (2Pd 1,19). Chama de “manhã” o fim do mundo, quando veremos o que cremos na terra. Pois, “desde a manhã ouvirás minha voz. Desde a manhã estarei de pé diante de ti e verei (Sl 5,4.5). “Faze-me ouvir de manhã a tua misericórdia porque em ti esperei”. Pois se esperamos o que não vemos, nós o esperamos pela paciência (cf Rm 8,25). “Faze-me ouvir de manhã a tua misericórdia porque em ti esperei”. | |
§ 15 | E então, que fazer até que venha a manhã? Pois, não basta esperar pela manhã; há de se fazer alguma coisa. Por que fazer alguma coisa? Porque diz outro salmo: “No dia de minha tribulação procurei a Deus”, em minha noite busquei a Deus. Como o buscaste? “De noite levantei as mãos para ele e não fiquei decepcionado” (Sl 76,3). De noite, procura-se a Deus por meio das mãos. Que representam “as mãos?” As boas obras “levantei as mãos para ele: Quando deres uma esmola, não te ponhas a trombe-tear; e o teu Pai, que vê o que está oculto, te recompensará” (Mt 6,2.4). Uma vez que se deve aguardar assim a manhã e deste modo suportar a noite, e perseverar na paciência até o raiar do dia, que fazer neste intervalo? Acaso farás algo por ti mesmo, a fim de mereceres ser levado até a manhã? “Dá-me a conhecer o caminho em que ande”. Para isso, Deus acende a lâmpada dos profetas e enviou o próprio Senhor num vaso de argila, a carne, conforme ele mesmo se expressa: “Minha força secou-se qual vaso de argila” (Sl 21,16). Caminha, portanto, de acordo com as profecias, caminha à luz das predições de eventos futuros, caminha segundo a palavra de Deus. Ainda não contemplas o Verbo no princípio, Deus junto de Deus (cf Jo 1,1). Caminha até a condição de servo, e serás conduzido para junto da condição de Deus. “Dá-me a conhecer o caminho em que ande, porque a ti elevei a minha alma. Elevei a ti”, não contra ti. Junto de ti está a fonte da vida (cf Sl 35,10). “A ti elevei a minha alma”, levei à fonte meu vaso; enche-me, “porque a ti elevei a minha alma”. | |
§ 16 | 9 “Livra-me, Senhor, de meus inimigos, porque em ti me refugiei”. Eu que outrora fugi de ti, “em ti me refugiei”. Ora, Adão fugiu da presença de Deus e escondeu-se entre as árvores do paraíso (cf Gn 5,8). A seu respeito diz o livro de Jó: “Como o escravo, que foge de seu Senhor, e que conseguiu sombra” (Jó 7,2, sg os LXX). Fugiu da face de seu senhor, e conseguiu sombra: fugiu para a sombra das árvores do paraíso. Ai dele, se permanecer na sombra; não lhe seja dito mais tarde: “Tudo isso passou como uma sombra” (Sb 5,9). “Livra-me de meus inimigos”. Não julgo que aqui se trate de homens inimigos: “O nosso combate não é contra a carne nem contra o sangue”. Contra quem? “Contra os Principados, contra as Potestades, contra os Dominadores deste mundo”. De que mundo? Não do céu e da terra; não reinam sobre aquilo que não fizeram. “Dominadores deste mundo”; mas de que mundo? “Destas trevas” (Ef 6,12). De que trevas? Dos iníquos. “Outrora éreis treva, mas agora sois luz no Senhor” (El 5,8). “Dominadores deste mundo, destas trevas”, dominadores dos iníquos; contra estes é que tendes de combater. Grande combate vos cabe, não ver os inimigos e vencê-los. “Contra os Dominadores deste mundo, destas trevas”, a saber, o diabo e seus anjos. Não são dominadores do mundo do qual foi dito: “O mundo foi feito por meio dele”, mas do mundo do qual foi dito: “O mundo não o conheceu” (Jo 1,10). “Livra-me, Senhor, de meus inimigos, porque em ti me refugiei. De meus inimigos”: não de Judas, mas daquele que entrou em Judas. Suporto o inimigo que vejo, mas ataco o que não vejo. Pois, Judas recebeu o bocado e Satanás nele entrou (cf Jo 13,27), a fim de que este Davi sofresse perseguição da parte de um filho. De quantos Judas Satanás encheu o coração, os quais indignamente receberam o pedaço de pão para seu juízo! Aquele que come e bebe indignamente, come e bebe a própria condenação (cf 1Cor 11,29). Não é coisa má o que é dado, mas o que é bom é dado ao mau para sua condenação. Não pode ser um bem receber mal o que é bom. Portanto, “livra-me, Senhor, de meus inimigos, porque em ti me refugiei”. Pois, para onde fugiria? “Aonde irei para longe de teu espírito? Se subir ao céu ali estás, se descer ao inferno ali estás presente”. Que me resta? “Se retomar minhas asas como pomba, e voar até os confins do mar, isto é, se pela esperança habitar no fim dos tempos, até lá me conduzirá a tua mão e a tua destra me sustentará” (Sl 138,7-10). “Livra-me, Senhor, de meus inimigos, porque em ti me refugiei”. | |
§ 17 | 10 “Ensina-me a fazer a tua vontade, porque és o meu Deus”. Ó confissão, ó prescrição! “Porque és o meu Deus”. Devo correr procurando refazer-me junto de outro, se fui criado por ele. Tu és todo meu: “porque és o meu Deus”. Procurarei o Pai, por causa da herança? “Tu és o meu Deus”, não somente doador da herança, mas a própria herança: “O Senhor é a porção da minha herança” (Sl 15,5). Devo procurar o Senhor, tendo em vista a redenção? “Tu és o meu Deus”. Procuro um patrono para minha libertação? “Tu és o meu Deus”, no final, tendo sido criado, desejo uma restauração? “Tu és o meu Deus”, meu Criador, que me criaste por teu Verbo, e me fizeste nova criatura pelo Verbo. Mas tu me criaste por meio do Verbo, que é Deus e permanece junto de ti; fizeste-me nova criatura pelo Verbo que se fez carne por nossa causa. “Ensina-me, pois, “a fazer a tua vontade, porque és o meu Deus”. Se não me ensinares, farei minha vontade, e meu Deus me abandonará. “Ensina-me a fazer a tua vontade, porque és o meu Deus”. Ensina-me: pois, tu és o meu Deus, mas eu não serei meu próprio mestre. Vede como é encarecida a graça. Conservai isto na memória; embebei-vos desta verdade, ninguém a tire de vosso coração, a fim de que não tenhais um zelo de Deus não esclarecido; nem desconhecendo a justiça de Deus, e procurando estabelecer a vossa própria, deixeis de estar sujeitos à justiça de Deus (cf Rm 10,2.3). Reconheceis certamente as palavras do Apóstolo. Repeti, portanto, a seguinte: “Ensina-me a fazer a tua vontade, porque és o meu Deus”. | |
§ 18 | 10.12 “Teu espírito bom”, não é meu, malvado. “Teu espírito bom me conduzirá à terra de retidão”, enquanto meu espírito mau me conduziu à terra perversa. E que mereci? Quais são as minhas obras boas que contam sem o teu auxílio para que impetre a graça de ser digno de ser conduzido por teu Espírito à terra de retidão? Quais as minhas obras, os meus méritos? “Por teu nome, Senhor, tu me vivificarás”. Prestai atenção, portanto, quanto puderdes, à recomendação da graça, pela qual fostes salvos gratuitamente. “Por teu nome, Senhor, tu me vivificarás. Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá a glória” (Sl 113,12). “Por teu nome, Senhor, tu me vivificarás em tua justiça”, não em minha justiça; não porque tenha merecido, mas porque tu te compadeces. Pois, se quissesse apresentar meus méritos, nada mereceria de ti, senão suplício. Arrancaste meus méritos, inseriste os teus dons. “Por teu nome, Senhor, tu me vivificarás em tua justiça; livrarás a minha alma da angústia. Na tua misericórdia exterminarás meus inimigos. Destruirás todos os que me atribulam a alma, porque sou teu servo”. | |