SALMO 𝟭𝟛𝟝

Os ídolos das nações são prata e ouro, obra das mãos dos homens;

têm boca, mas não falam; têm olhos, mas não vêem; têm ouvidos, mas não ouvem; nem há sopro algum na sua boca.





ORAÇÃO ⁜ SALMO DA BÍBLIA № 135


§ 135:1  Ł Louvai ao Senhor. Louvai o nome do Senhor; louvai-o, servos do Senhor,

§ 135:2  vós que assistis na casa do Senhor, nos átrios da casa do nosso Deus.

§ 135:3  Ł Louvai ao Senhor, porque o Senhor é bom; cantai louvores ao seu nome, porque ele é bondoso.

§ 135:4  Porque o Senhor escolheu para si a Jacó, e a Israel para seu tesouro peculiar.

§ 135:5  Porque eu conheço que o Senhor é grande e que o nosso Senhor está acima de todos os deuses.

§ 135:6  Ŧ Tudo o que o Senhor deseja ele o faz, no céu e na terra, nos mares e em todos os abismos.

§ 135:7  Ƒ Faz subir os vapores das extremidades da terra; faz os relâmpagos para a chuva; tira os ventos dos seus tesouros.

§ 135:8  Ƒ Foi ele que feriu os primogênitos do Egito, desde os homens até os animais;

§ 135:9  ɋ que operou sinais e prodígios no meio de ti, ó Egito, contra Faraó e contra os seus servos;

§ 135:10  ɋ que feriu muitas nações, e matou reis poderosos:

§ 135:11  ɑ a Siom, rei dos amorreus, e a Ogue, rei de Basã, e a todos os reinos de Canaã;

§ 135:12  E deu a terra deles em herança, em herança a Israel, seu povo.

§ 135:13  O teu nome, ó Senhor, subsiste para sempre; e a tua memória, ó Senhor, por todas as gerações.

§ 135:14  Pois o Senhor julgará o seu povo, e se compadecerá dos seus servos.

§ 135:15  Os ídolos das nações são prata e ouro, obra das mãos dos homens;

§ 135:16  ʈ têm boca, mas não falam; têm olhos, mas não vêem;

§ 135:17  ʈ têm ouvidos, mas não ouvem; nem há sopro algum na sua boca.

§ 135:18  Semelhantemente a eles se tornarão os que os fazem, e todos os que neles confiam.

§ 135:19  Ơ Ó casa de Israel, bendizei ao Senhor; ó casa de Arão, bendizei ao Senhor;

§ 135:20  Ơ Ó casa de Levi, bendizei ao Senhor; vós, os que temeis ao Senhor, bendizei ao Senhor.

§ 135:21  Ɗ Desde Sião seja bendito o Senhor, que habita em Jerusalém. Louvai ao Senhor.


O SALMO 135



§ 1
1 “Confessai ao Senhor, porque ele é bom, porque eterna é a sua misericórdia”.

Este salmo contém o louvor de Deus, e todos os seus versículos terminam com o mesmo estribilho. Além disso, apesar de serem proferidas muitas palavras em louvor de Deus, principalmente se recomenda a sua misericórdia. O salmista, por meio do qual o Espírito Santo compôs o salmo, não quis que versículo algum terminasse sem explícita citação desta misericórdia. Lembro-me, porém, que no salmo centésimo quinto (Sl 105,1), que começa da mesma forma, não há no códice que consultei:

eterna” e sim:

pelos séculos a sua misericórdia”.

Procurei saber como devíamos entender isso. No texto grego acha-se: eis tòn aiona que se pode traduzir por:

pelos séculos e eternamente”.

Mas, o que ali expliquei, quanto foi possível, seria longo aqui repetir. Neste salmo, porém, o mesmo códice não traz:

pelos séculos”, conforme trazem alguns, mas:

sua misericórdia é eterna”.

Embora após o juízo final de vivos e mortos, quando os justos irão para a vida eterna e os iníquos para o fogo eterno, não haverá mais alguém para o qual deva Deus exercer a misericórdia, pode-se interpretar corretamente que sua misericórdia será eterna, a misericórdia que concede a seus santos e a seus fiéis. Não serão eternamente miseráveis, necessitados de uma misericórdia eterna; mas quer isto dizer que a própria bem-aventurança que Deus concede misericordiosamente aos míseros, para deixarem de ser miseráveis e começarem a ser felizes, não terá fim, e por isso é “eterna a sua misericórdia”.

Deriva de sua misericórdia que de iníquos seremos transformados em justos, de doentes em sadios, de mortos em vivos, de mortais em imortais, de miseráveis em felizes. E assim seremos eternamente: portanto, “eterna é a sua misericórdia”.

Por conseguinte:

Confessai ao Senhor”, isto é, confessando louvai ao Senhor, “porque ele é bom”.

Em vista desta confissão, não havereis de adquirir algum bem temporal, “porque eterna é a sua misericórdia”, isto é, o benefício que vos concede misericordiosamente é eterno. Quanto à expressão:

porque ele é bom”, no grego se encontra agathos, e não a mesma palavra que no salmo centésimo quinto: lá, “porque ele é bom”, corresponde ao termo grego chrestós. Por isso, alguns verteram: Porque ele é suave. Agathós não se refere a um bem qualquer, mas a alguém que é bom por excelência.



§ 2
2.3 Logo prossegue o salmo:

Confessai ao Deus dos deuses, porque eterna é a sua misericórdia. Confessai ao Senhor dos senhores, porque eterna é a sua misericórdia”.

Com toda razão se costuma perguntar que deuses e senhores são estes dos quais é Senhor e é Deus, o Deus verdadeiro. E encontramos em outro salmo escrito que também os homens são denominados deuses, conforme o versículo:

Deus está de pé na assembléia dos deuses e no meio deles instituiu seu julgamento(Sl 81,1.6.7).

E um pouco mais adiante: Eu disse:

Vós sois deuses e sois todos filhos do Altíssimo. Morrereis todavia como homens e caireis como um príncipe qualquer”.

O Senhor igualmente cita este testemunho no evangelho:

Não está escrito em vossa Lei: Eu disse: Sois deuses? Se ela chama deuses aqueles aos quais a palavra de Deus foi dirigida — e a Escritura não pode ser anulada —, àquele que o Pai consagrou e enviou ao mundo dizeis: Blasfemas! porque disse: Sou Filho de Deus”? (Jo 10,34-36).

São denominados deuses, não por serem todos bons, mas porque a palavra de Deus foi a eles dirigida. Se fossem todos bons, não os julgaria deste modo. O salmo depois de dizer:

Deus está de pé na assembléia dos deuses” não disse: Ele faz uma distinção entre deuses e homens, querendo mostrar a diferença que existe entre deuses e homens, mas declara:

No meio dos deuses instituiu seu julgamento”.

E prossegue:

Até quando julgareis injustamente” etc.? (Sl 81,2).

Não se refere, de fato, a todos, e sim a alguns, porque fala com discernimento; no entanto “no meio dos deuses instituiu seu julgamento”.



§ 3
Mas pergunta-se: Uma vez que os homens, aos quais se dirigiu a palavra de Deus, são chamados deuses, também os anjos devem receber esta denominação? Note-se que foi prometido aos homens justos e santos, como prêmio máximo, a igualdade com os anjos. Entretanto, não sei se é possível, ou mesmo seja fácil encontrar nas Escrituras uma afirmação nítida de que os anjos são deuses. Tendo sido asseverado sobre o Senhor Deus:

É temível sobre todos os deuses”, logo à maneira de explicação por que assim falou, prossegue:

Porque os deuses das nações são demônios”.

O salmista diz que acima desses deuses o Senhor é terrível em seus santos, transformados em céus, que atemorizam os demônios. Pois, assim continua o salmo:

Mas o Senhor fez os céus(Sl 95,4.5).

Eles, portanto, não são deuses sem mais; mas os demônios são deuses dos gentios. Mais acima, contudo, disse:

É temível sobre todos os deuses”; e não: sobre todos os deuses dos gentios, apesar de o dar a entender, acrescentando o seguinte:

Porque os deuses das nações são demônios”.

Diz-se que em hebraico não se encontra escrito deste modo, e sim:

Os deuses das nações são simulacros”.

Se isto é exato, muito mais crédito merece a versão dos Setenta, que verteram por iluminação do Espírito Santo, o mesmo Espírito que falou o que se encontra nas Escrituras hebraicas. Por obra do mesmo Espírito, foi conveniente falar como foi dito:

Os deuses das nações são demônios”, para entendermos que é este o sentido da expressão hebraica:

Os deuses das nações são simulacros”, a fim de se designarem antes os demônios que estão nos simulacros. Pois, quanto aos próprios simulacros, que em grego se chamam ídolos (nome que já usamos em latim) têm olhos e não vêem etc., segundo o que se afirma deles, porque carecem de qualquer sensibilidade. Por isso, não podem se atemorizar, visto que os seres insensíveis não podem, de fato, se atemorizar. Como então o salmo assevera sobre o Senhor:

É temível sobre todos os deuses. Porque os deuses das nações, são demônios”, a não ser que por simulacros se designem os demônios, os quais podem se atemorizar? Daí deriva a palavra do Apóstolo:

Sabemos que um ídolo nada é(1 Cor 8,4).

Assim se refere à matéria terrena insensível. E ainda, para que ninguém pensasse não existir natureza viva que se deleite nos sacrifícios dos gentios, acrescentou:

Aquilo que os gentios imolam, eles o imolam aos demônios, e não a Deus. Ora, não quero que entreis em comunhão com os demônios(1 Cor 10,20).

Se, portanto, nunca se encontra na Sagrada Escritura uma passagem em que os anjos sejam denominados deuses, veio-me à mente que o motivo principal seria que os homens, por causa deste nome, não fossem induzidos a prestar aos santos anjos o ministério ou culto, que em grego se chama liturgia ou latria; eles próprios não querem que os homens lhe prestem tal culto, mas o prestem somente a Deus, que é Deus deles e dos homens. Daí vem que sejam chamados anjos, com maior vantagem, porque em latim este nome significa núncio. Através deste nome que não indica a substância e sim o ofício, entendemos bem que eles querem que adoremos aquele Deus anunciado por eles. O Apóstolo resolve rapidamente toda esta questão, com as palavras:

Se bem que existam aqueles que são chamados deuses, quer no céu, quer na terra — e há, de fato, muitos deuses e muitos senhores —, para nós, contudo, existe um só Deus, o Pai, de quem tudo procede e para quem nós somos, e um só Senhor, Jesus Cristo, por quem tudo existe e por quem nós somos(1 Cor 8,5.6).



§ 4
4.7 Confessemos, portanto, “ao Deus dos deuses, e ao Senhor dos senhores, porque eterna é a sua misericórdia. Ao único que faz grandes maravilhas”.

Assim como na última parte de todos os versículos se encontra:

Porque eterna é a sua misericórdia”, assim na primeira parte de todos, embora não seja explicitado deve-se subentender:

Confessai”.

Em grego isto é evidente. Seria explícito também no latim, se nossos tradutores pudessem verter a mesma locução. Seria possível neste versículo, se dissessem: facienti mirabilia - nós temos: Qui facit mirabilia, e o grego: facienti mirabilia, sendo então necessário subentender:

Confessai”.

Se ao menos tivessem acrescentado o pronome, dizendo: Aquele que faz, Ei qui facit, ou: aquele que fez, ei qui fecit, ou: aquele que firmou, ei qui firmavit, porque deste modo facilmente se compreenderia que estava subentendido:

Confessai”.

Agora, efetivamente, está muito obscuro, de sorte que aquele que não souber ler o códice grego, ou negligenciar este exame, poderá pensar o seguinte:

Que fez os céus, que firmou a terra, que fez os luminares, porque eterna é sua misericórdia” assinalaria que Deus fez tudo isso, “porque eterna é a sua misericórdia”, enquanto à sua misericórdia compete libertar da miséria. E não, ao contrário, entendamos que pertence a sua misericórdia criar céu, terra, luminares, pois é próprio tudo isso da bondade de Deus que criou todas as coisas muito boas. Criou, porém, para que todas as coisas existissem; é peculiar à misericórdia purificar-nos de nossos pecados e libertar-nos para sempre da miséria. Por isso, assim nos fala o salmo:

Confessai ao Deus dos deuses, confessai ao Senhor dos senhores”; confessai àquele que é o “único a fazer grandes maravilhas”; confessai àquele que “fez os céus com sabedoria”; confessai àquele “que firmou a terra sobre as águas”; confessai “àquele que sozinho fez os grandes luminares”.

Coloca no fim de todos os versículos o motivo porque devemos confessar:

Porque eterna é a sua misericórdia”.



§ 5
5.10 Mas que quer dizer:

Ao único que faz grandes maravilhas?” Acaso assim se exprime porque Deus faz muitas maravilhas através dos anjos e dos homens? Há certas maravilhas que somente Deus faz, e o salmista continua:

Que fez os céus com sabedoria, que firmou a terra sobre as águas; ao único que fez os grandes luminares”.

Acrescentou aqui:

único”, porque as outras maravilhas que vai narrar, Deus as fez por intermédio dos homens. Tendo dito, contudo:

Ao único que fez os grandes luminares”, em seguida esclarece quais são esses luminares.

O sol para presidir o dia, a lua e as estrelas para presidirem a noite”.

Em seguida começa a declarar o que fez por meio dos anjos e dos homens:

Que feriu os egípcios com seus primogênitos” etc. Deus sozinho, portanto, fez toda a criação, e não por intermédio de alguma criatura. O salmista enumera certas partes mais excelentes da criação, por meio das quais imaginássemos o conjunto, a saber, os céus inteligíveis e a terra visível; e como existem também os céus visíveis, exortou-nos, relembran-do os luminares do céu, a aceitarmos que foi criado por Deus o conjunto dos corpos celestes.



§ 6
Pode-se pesquisar se o versículo:

Que fez os céus com sabedoria”, ou conforme alguns traduziram:

com inteligência” figura os céus inteligíveis, ou quer dizer que Deus fez com seu intelecto, ou sua inteligência os céus, isto é, com sua Sabedoria, segundo a passagem da Escritura:

Com sabedoria fizeste todas as coisas(Sl 103,24), insinuando deste modo tratar-se do Verbo unigênito. Mas se é assim que Deus com seu intelecto fez os céus, por que trata somente dos céus, apesar de ter Deus criado tudo com a mesma Sabedoria? Ou só ele foi citado expressamente para se entender implicitamente as demais criaturas, de tal sorte que seja este o sentido:

Que fez os céus com sabedoria, que firmou a terra sobre as águas”, subentendendo-se:

com sabedoria. Ao único que fez os grandes luminares, o sol para presidir o dia e a lua e as estrelas para presidirem a noite”, efetivamente “com sabedoria?” Como, então, fez “sozinho”, se o fez com o intelecto, ou com a inteligência, com a Sabedoria, isto é, com o Verbo unigênito? Ou, seria porque a Trindade não é composta de três deuses, mas é um só Deus, afirma-se que foi o único a fazer, visto que não fez a criação por meio de uma criatura?



§ 7
Mas que sentido tem o versículo:

Que firmou a terra sobre as águas?” É questão obscura, pois a terra parece mais pesada, de sorte que se acredita não serem as águas que a sustentam, antes ela é que sustenta as águas. Não queremos aparentar, contra os que pensam ter descoberto estas coisas por meio de certas razões, defender com contendas as nossas Escrituras. Seja assim, ou seja de outra maneira, temos como entender no momento que a terra, habitada pelos homens e que contém animais terrestres, denominados de outro modo nas Escrituras terra firme, conforme foi escrito:

Apareça a terra firme, e Deus chamou à terra firme de terra(Gn 1,9.10), foi fir-mada sobre as águas, porque se destaca no meio das águas que a cercam. Não se diz que a cidade do litoral se firma sobre as águas; o mar está abaixo dela mas não como as águas sob as cavernas, ou debaixo dos navios que o sulcam; diz-se que está sobre os mares, porque se eleva acima do mar, em nível inferior. Assim foi dito a respeito do faraó que ele saiu às águas, super aquam (Ex 7,15); assim se encontra no grego, enquanto alguns códices latinos têm: ad aquam, junto das águas. De igual modo, o Senhor sentou-se junto ao poço, super puteum sedebat (cf Jo 4,6).

Ambos estavam bem acima do rio e do poço; o faraó estava junto do rio, o Senhor junto do poço.



§ 8
Se, porém, estas palavras:

Deus fez os céus com sabedoria” representam algo que nos toca mais de perto, seus santos espirituais, aos quais concedeu o dom não somente de crer, mas ainda de entender as coisas divinas de outro lado, os que ainda não podem entender, e somente dão sua adesão por uma fé firmíssima, são figurados pelo nome de terra abaixo dos céus. E como estão firmes por fé inabalável naquilo que receberam no batismo, foi dito:

Que firmou a terra sobre as águas”.

Além disso, visto que foi dito acerca de nosso Senhor Jesus Cristo que nele estão “escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento(Cl 2,3), os dois, isto é, a sabedoria e o conhecimento, se distinguem entre si, conforme atesta a Escritura, principalmente na palavra do santo varão Jó, onde cada qual de certo modo é definido:

E disse ao homem: O temer o Senhor, eis a sabedoria; fugir do mal, eis a inteligência(Jó 28,28), não há inconveniente em entendermos que a sabedoria consiste no conhecimento e amor daquele que sempre existe, e permanece imutavelmente, isto é, Deus. Pois, a expressão:

Eis a sabedoria”, o temor do Senhor, diz-se em grego theosébeia; para se expressar totalmente o seu sentido em latim poder-se-ia dizer: culto de Deus.

Fugir do mal”, o que ele chama de inteligência, que é senão, no meio de uma geração má e pervertida (cf Fl 2,15), na noite deste mundo, viver cautelosa e prudentemente? Assim, abstendo-se cada qual da iniqüidade, não se confunde nas trevas, separado delas pela luz do próprio dever. Em certa passagem, o Apóstolo querendo mostrar a variedade concorde das graças nos homens de Deus, coloca essas duas qualidades em primeiro lugar:

A um o Espírito dá a mensagem da sabedoria”, a meu ver, seria:

O sol para presidir o dia”.

A outro, a palavra da ciência, segundo o mesmo Espí-rito”, isto é, “a lua”.

Em seguida, penso que cita de certa maneira as “estrelas” nesses termos:

A outro, o mesmo Espírito dá a fé, a outro ainda, o único e mesmo Espírito concede o dom das curas; a outro, o poder de fazer milagres; a outro, a profecia, a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, o dom de falar em línguas; a outro, ainda, o dom de as interpretar(1 Cor 12,8).

Nenhum desses dons é desnecessário na noite deste mundo; depois que ela passar, já não serão necessários; portanto, “para presidirem a noite”.

Disse o salmista:

para presidirem o dia ou a noite”, de sorte que brilhassem de dia ou de noite. Entende-se acerca dos dons espirituais, porque o Senhor lhes deu o poder de se tornarem filhos de Deus (cf Jo 1,12).

Que feriu os egípcios com seus primogênitos”.

Feriu o mundo, com os que são reputados importantes no mundo.



§ 9
11.26 “E tirou Israel do meio deles”.

Tirou também os santos e fiéis do meio dos maus.

Com mão poderosa e braço estendido”.

Que há de mais poderoso, mais elevado do que o braço de que foi dito:

E a quem se revelou o braço do Senhor”? (Is 53,1).

Que dividiu o mar Vermelho em duas partes”.

Divide também quando um só e mesmo batismo para uns é vida, para outros é morte.

E tirou Israel do meio deles”.

Conduziu igualmente seu povo renovado através do banho da regeneração.

E precipitou o faraó e seu exército no mar Vermelho”.

Velozmente apagou os pecados e a culpa deles por meio do batismo.

Que conduziu seu povo pelo deserto”.

Conduze-nos também através da aridez e esterilidade deste mundo, a fim de não perecermos.

Que abateu grandes reis, e exterminou reis poderosos”.

Abate e extermina igualmente em nosso favor os poderes diabólicos e prejudiciais.

A Seon, rei dos amorreus”.

Germe inútil ou tentação ardente é o significado de Seon; rei dos provocadores, significado de amor-reus.

E Og, rei de Basã”.

Aquele que amontoa, significado de Og, e rei de confusão, sentido de Basã. Que, porém, amontoa o diabo, a não ser confusão? “E deu a terra deles em herança, em herança a Israel, seu servo”.

Dá também aqueles que eram posse do diabo em herança à descendência de Abraão, que é o Cristo.

Em nossa humilhação lembrou-se de nós. E resgatou-nos de nossos inimigos”, pelo sangue de seu Unigênito.

Ele dá alimento a toda carne”, isto é, a toda espécie de homens, não apenas israelitas, mas também gentios. Deste alimento se diz:

Pois a minha carne é verdadeira comida(Jo 6,55).

Confessai ao Deus do céu, porque eterna é a sua misericórdia. Confessai ao Senhor dos senhores, porque eterna é a sua misericórdia”.

Creio que a expressão:

Deus do céu” é outro modo de dizer o mesmo que acima:

Deus dos deuses”.

Pois o que lá acrescentou, repetiu também aqui:

Confessai ao Senhor dos senhores”.

Se bem que existam aqueles que são chamados deuses, quer no céu, quer na terra — e há, de fato, muitos deuses e muitos senhores —, para nós, contudo, existe um só Deus; o Pai, de quem tudo procede e para quem nós somos” (1 Cor 8,5.6), ao qual nós confessamos, “porque eterna é a sua misericórdia”.