ORAÇÃO ⁜ SALMO DA BÍBLIA № 128 | ||
§ 128:1 | Ꞗ Bem-aventurado todo aquele que teme ao Senhor e anda nos seus caminhos. | |
§ 128:2 | Ꝓ Pois comerás do trabalho das tuas mãos; feliz serás, e te irá bem. | |
§ 128:3 | Ɑ A tua mulher será como a videira frutífera, no interior da tua casa; os teus filhos como plantas de oliveira, ao redor da tua mesa. | |
§ 128:4 | ⱻ Eis que assim será abençoado o homem que teme ao Senhor. | |
§ 128:5 | Ɗ De Sião o Senhor te abençoará; verás a prosperidade de Jerusalém por todos os dias da tua vida, | |
§ 128:6 | ⱻ E verás os filhos de teus filhos. A paz seja sobre Israel. | |
O SALMO 128 | ||
SERMÃO AO POVO 💬 | ||
§ 1 | O salmo que cantamos é curto; mas conforme se acha escrito no evangelho a respeito de Zaqueu que era de pequena estatura, mas grande em obras (cf Lc 19,2-9), e como está escrito acerca da viúva que jogou duas moedi-nhas no tesouro do templo, que tinha pouco dinheiro mas grande caridade (cf Mc 12,42-44; Lc 21,2-4), assim este salmo é breve no número de palavras, mas se ponderas as sentenças é grande. Ele não nos deterá até nos cansarmos. Por quê? Note vossa prudência, e haja uma atenção própria de um cristão. Soe a palavra de Deus, para os que querem e não querem, de maneira oportuna e inoportuna. Encontre espaço, encontre corações onde repouse, encontre terra para germinar e dar fruto. Pois, é manifesto que existem muitos maus e iníquos que a Igreja suporta até o fim do mundo. Para estes a palavra de Deus é supérflua. E cai sobre eles como a semente que cai no caminho e é pisada ou recolhida pelas aves; ou cai sobre eles como a semente que caiu num terreno pedregoso, onde não há muita terra, e logo que brota, murcha devido ao calor do sol, porque não têm raízes; ou como a semente no meio dos espinhos, que apesar de germinar e querer levantar-se para o ar livre, é sufocada pela quantidade de espinhos. Tais são os que desprezam a palavra de Deus como a semente no caminho, ou os que se alegram por um momento, e quando vem a tribulação, como o calor do sol, murcham; ou que por causa dos pensamentos e cuidados e solicitudes mundanos, os espinhos da avareza sufocam o que neles começou a germinar. Existe, porém, igualmente a terra boa, onde a semente que caiu produz fruto, um trinta, outro sessenta outro cem por cento. Muito ou pouco, todos irão para o celeiro (cf Mt 13,3-23). Existem portanto todos esses, e por causa deles é que falamos. Por eles fala a Escritura, em vista deles não cala o evangelho. Mas, que também os outros ouçam. Podem ser uma coisa hoje, outra amanhã. É possível que mudem, ao ouvirem, arando o caminho, limpando as pedras, arrancando os espinhos. Diga o Espírito de Deus, fale e cante para nós. Cante quer queiramos dançar, quer não o queiramos. Quem dança, movimenta-se de acordo com o canto; igualmente os que dançam segundo os preceitos de Deus, suas obras obedecem aos sons do canto. Que foi que o Senhor disse no evangelho aos que não quiseram assim agir? “Cantamos e não dançastes! Entoamos lamentações e não batestes no peito” (Mt 11,17). Cante, pois. Acreditamos na misericórdia de Deus, porque existirão alguns para nos consolarem. Pois, quanto aos pertinazes, que perseveram na malícia, embora ouçam a palavra de Deus, perturbam cotidianamente a Igreja com seus escândalos. Destes fala o presente salmo que assim principia: | |
§ 2 | “Muito me atacaram desde a minha juventude”. A Igreja menciona os que ela tolera e parece dizer: Por acaso isso acontece agora? A Igreja é antiga; desde que se nomeiam os santos, existe a Igreja na terra. Primitivamente a Igreja se encontrava só em Abel, que foi morto por Caim (cf Gn 4,8), o irmão malvado e perdido. Outrora existia só em Enoc, que foi trasladado do meio dos iníquos (cf Gn 4,24). Em certo tempo a Igreja se achava somente na casa de Noé, que suportou todos os que pereceram no dilúvio; apenas a arca emergia das águas e alcançou, escapando, a terra firme (cf Gn 6,8). Em determinada época a Igreja se encontrava somente em Abraão e sabemos quanto ele suportou da parte dos pecadores. A Igreja se achava somente no filho de seu irmão, Lot, e em sua casa em Sodoma; ele suportou as iniqüidades e perversidades dos sodomitas, até que Deus o libertou do meio deles (cf Gn 12,20). A Igreja começou a existir no povo de Israel, que suportou o faraó e os egípcios. Começou também na assembléia, isto é, no povo de Israel, a aumentar o número dos santos. Moisés e outros santos suportavam os iníquos judeus, o povo de Israel. Finalmente chegou nosso Senhor Jesus Cristo, o evangelho foi pregado, e ele disse nos salmos: “Eu os anunciei e narrei; multiplicaram-se acima de qualquer número” (Sl 39,6). Que significa: “acima de qualquer número?” Não somente acreditaram os que pertencem ao número dos santos, mas entraram também “acima de qualquer número”: muitos justos e muito mais iníquos; e os justos suportaram os iníquos. Quando? Na Igreja. Por acaso somente agora, quando ela enumera, quando comemora? Então, para que a Igreja agora não se admirasse, para que ninguém se admirasse a respeito da Igreja, querendo ser bom membro da Igreja, ouça como a própria mãe Igreja diz a si mesma: Não se espantem com esses fatos, filhos: “Muito me atacaram desde a minha juventude”. | |
§ 3 | O salmo começou assim com grande emoção: “Muito me atacaram desde a minha juventude”. Parece que já estava falando alguma coisa, pois não se assemelha a um início, mas a uma resposta. Mas, a quem responde? Aos que pensam e dizem: Quantos males sofremos, quantos escândalos crescem cada dia, quantos iníquos entram na Igreja e os suportamos? Responda, porém, a Igreja por intermédio de alguns, isto é, responda pela voz dos mais fortes às queixas dos fracos e os firmes corroborem os fracos, os grandes aos pequenos e declare a Igreja: “Muito me atacaram desde a minha juventude. Diga-o Israel agora: Muito me atacaram desde a minha juventude”. Diga-o, não tema. Que importância tem o fato de que depois de dizer: “Muito me atacaram”, acrescentou: “desde a minha juventude?” Agora, a Igreja em sua velhice é atacada, mas não deve temer; diga: “Muito me atacaram desde a minha juventude”. Talvez não chegou à velhice, porque eles não cessaram de atacar? Puderam eliminá-la? “Diga-o Israel agora” e console-se Israel, console-se a própria Igreja com os exemplos do passado e diga: “Muito me atacaram desde a minha juventude”. | |
§ 4 | Por que atacaram? “Mas não prevaleceram contra mim. Lavraram o meu dorso os pecadores, levaram longe a sua injustiça”. Por que atacaram? “não prevaleceram contra mim”. Que significa: “não prevaleceram contra mim?” Não puderam lavrar. Por que motivo “não prevaleceram contra mim?” Não consenti no mal. Todo mau persegue o bom porque o bom não consente no mal. Pratique alguém o mal. O bispo não repreende: o bispo é bom. O bispo repreende: o bispo é mau. Alguém rouba. Cale-se o roubado e é bom; fale qualquer coisa, repreenda, mesmo que não exija restituição, é mau. Mau é quem re- preende o ladrão e bom o que rouba! Prossiga: “Comamos e bebamos porque amanhã morreremos” (Is 22,13; 1Cor 15,32-24). Ao contrário, diz o Apóstolo: “As más companhias corrompem os bons costumes. Tornai-vos sóbrios, como é necessário e não pequeis!” Soa a palavra e ressoa a palavra contraditória à paixão; ora, o amigo do prazer, inimigo da palavra oposta a sua amizade, é adversário e odeia a palavra de Deus. A avareza se tornou amiga, e Deus se fez seu inimigo. Pois Deus contradiz à avareza, não quer que a avareza possua alguma coisa. Ela me possui, clama o avarento. Por que queres que a avareza te possua? Ela dá ordens duras, e eu mando coisas leves: seu peso é grande, meu fardo é leve (cf Mt 11,30); seu jugo é áspero, meu jugo é suave. Não queiras ser posse da avareza. A avareza manda que atravesses o mar e obedeces; manda que te sujeites aos ventos e procelas. Eu te ordeno a que dês ao pobre que está diante de tua porta; tens preguiça de fazer a boa obra que está diante de ti e és corajoso para atravessar o mar. Serves porque é a avareza que manda; odeias, porque a ordem vem de Deus. Como? Quando começar a odiar, principia a incri-minar aqueles dos quais ouve bons preceitos e por suas suspeitas quer encontrar crimes nos servos de Deus. Aqueles que nos dizem estas coisas, não as fazem eles mesmos? E dizem que se deve fazer seja o que se faz ou que se não faz. As coisas boas, eles dizem que são más, e as que toleramos, atribuem-nos como culpa. E nós, que responderemos? Não me dês atenção; atende à palavra. O Senhor te fala através de qualquer um; é dele que és inimigo. Assume uma atitude conciliadora com o teu adversário, enquanto estás com ele no caminho (cf Mt 5,25). Fizeste da palavra de Deus teu adversário. Não dês atenção àquele que te fala; pode ser mau o intermediário por quem te fala, mas não é mau quem te fala, a palavra Deus. Acusa a Deus, acusa, se podes. | |
§ 5 | Acreditais, irmãos, que a este ponto chegaram aqueles aos quais se diz no salmo: “Muito me atacaram desde a minha juventude”, que não hesitam em acusar o próprio Deus? Acusas o avaro, e ele acusa a Deus que fez o ouro. Não sejas avaro. Que Deus não fizesse o ouro. Falta só isto: como não podes te abster de praticar obras más, acusas as obras de Deus, que são boas; desagrada-te o Criador e artífice do mundo. Não devia ter feito o sol, porque muitos nas janelas brigam por causa da luz, e levam um ao outro ao juízo. Oh! se nos abstivermos de nossos vícios! Todas as coisas, de fato, são boas, porque é bom o Deus que as fez; e suas obras o louvam, quando as considera quem têm um espírito refletido, espírito piedoso e sábio. Em toda parte Deus é louvado por suas obras. Como não o louvam suas obras, através da boca dos três jovens? (cf Dn 3,57-90). Que foi omitido? Louvam-no os céus, louvam os anjos, louvam os astros, louvam o sol e a lua, louvam os dias e as noites, louva tudo o que germina na terra, louva tudo o que nada no mar, louva tudo o que voa no ar, louvam todos os montes e colinas, louvam o frio e o calor. Ouvistes que louva a Deus tudo o mais que ele fez; por acaso ouvistes que louvam a Deus a avareza, e a luxúria? Estas coisas não o louvam, porque ele não as fez. Naquele cântico os homens louvam a Deus, pois Deus é o Criador do homem. A avareza é obra dos homens malvados; mas o próprio homem é obra de Deus. E qual a vontade de Deus? Matar em ti o que fizeste e salvar o que ele mesmo fez. | |
§ 6 | Não emprestes com usura. Tu acusas a Escritura que diz: “Não emprestou dinheiro com usura” (Sl 14,5). Não fui eu que o escrevi, não foi de minha boca que saiu pela primeira vez. Escuta o que diz Deus. Alguém te diz: Os clérigos não emprestem com usura. Talvez quem te fala não empresta; mas se ele empresta com usura, está bem, ele empresta; por acaso empresta com usura aquele que fala por seu intermédio? Se ele pratica o que te ordena e tu não o fazes, tu irás para o fogo eterno e ele para o reino. Se não pratica o que te ordena, e igualmente pratica o mal que fazes, e te ordena o bem que não faz, os dois irão de igual modo para o fogo. O feno arderá, mas a palavra do Senhor permanecerá eternamente (cf Is 40,8). Arderá a palavra que soou por meio dele? Ou é Moisés que te fala, isto é, um bom e justo servo de Deus; ou é um fariseu que se senta na cátedra de Moisés; ouviste o que foi dito acerca deles: “Observai tudo quanto vos disserem. Mas não imiteis as suas ações” (Mt 23,3). Não tens desculpas quando a palavra de Deus se dirige a ti. Como não podes matar a palavra de Deus, procuras incriminar aqueles que te anunciam a palavra de Deus. Procura quanto quiseres, quanto quiseres blasfema, fala quanto quiseres: “Muito me atacaram desde a minha juventude. Diga-o Israel agora: Muito me atacaram desde a minha juventude”. Os usurários ousam mesmo declarar: Não tenho de que viver. Isto me diria também o ladrão, preso em flagrante; dir-me-ia o arrombador, surpreendido dentro das paredes de casa alheia; dir-me-ia o traficante, a comprar jovens para a prostituição; dir-me-ia o feiticeiro, a vender seus malefícios. A todos esses se tentássemos impedir, responderiam todos que não tinham de que viver, de que subsistir. Como se não devessem ser castigados principalmente por isso mesmo, que escolheram artes maléficas, para viverem no meio delas, tirando daí seu sustento, e ofendendo assim aquele que a todos alimenta. | |
§ 7 | Mas se clamares e lhes disseres essas coisas, eles replicam: Se é assim, não nos aproximamos; se é assim, não entramos na Igreja. Venham, entrem, ouçam: “Muito me atacaram desde a minha juventude. Mas não prevaleceram contra mim. Lavraram o meu dorso os pecadores”, isto é, não puderam fazer com que consentísses fizeram o mal que devo suportar. Como o salmista disse bem, como apontou com exatidão: “Mas não prevaleceram contra mim. Lavraram o meu dorso os pecadores”. Agem de tal modo que em primeiro lugar nos induzam a consentir nos seus malefícios; se não consentirmos, dizem-nos: Su-portai-nos. Por conseguinte, se não prevaleceste contra mim, sobe às minhas costas; devo carregar-te até o fim; pois assim me foi ordenado, a fim de que dê fruto na perseverança (cf Lc 8,15). Não te corrijo; tolero-te; ou talvez, pelo fato de te tolerar, tu te corriges. Se não te corrigires até o fim, tolero-te até o fim; e até o fim, lavrarás meu dorso, por certo tempo. Por acaso, permanecerás sempre sobre minhas costas? Pois, há de vir aquele que te expulse daí; virá o tempo da messe, virá o fim do mundo; Deus enviará os segadores. Os segadores são os anjos; separam os maus do meio dos justos, como o joio do trigo. Recolherão o trigo no celeiro; quanto à palha, queimá-la-ão no fogo inextinguível. Suportei quanto pude; então alegre passo para o celeiro de Deus, e canto com firmeza: “Muito me atacaram desde a minha juventude”. | |
§ 8 | Que, então, puderam fazer-me os que “me atacaram desde a minha juventude?” Exercitaram-me, mas não me oprimiram. Puderam contra mim quanto pode o fogo relativamente ao ouro e não como o fogo faz ao feno. Com efeito, o fogo aplicado ao ouro, tira as escórias; levado ao feno, converte-o em cinzas. “Mas não prevaleceram contra mim”, porque não consenti, porque não me transformaram em seres iguais a eles. “Lavraram o meu dorso os pecadores, levaram longe a sua injustiça”. Fizeram-me tolerar, mas não conseguiram que consentisse. Portanto, sua injustiça já está longe de mim. Os maus estão misturados com os bons não somente no mundo, mas até dentro da própria Igreja eles estão misturados. Vós o sabeis e o experimentastes; e experimentareis mais ainda se fordes bons. “Quando o trigo cresceu e começou a granar, apareceu também o joio” (Mt 13,24-43). Na Igreja, os maus só aparecem aos que são bons. Estais cientes de que estão mesclados, e a Escritura sempre e em toda parte diz que só se separarão no fim. Pelo fato de estarem misturados maus e bons, não pense alguém que a iniqüidade se acha junto da justiça. “Não prevaleceram contra mim”, isto é disseram e disseram perversamente: “Comamos e bebamos porque amanhã morreremos!” As más companhias não corromperam os bons costumes (Is 22,13; 1Cor 15,32.33). Em consideração ao que ouvi de Deus, não cedi às palavras dos homens. Os pecadores infligiram-me o que tive de suportar, mas não aderi a eles, e sua iniqüidade esteve longe de mim. Pois, que há de mais próximo do que dois homens numa só igreja? E que há de mais distante do que a iniqüidade da justiça? Onde há consenso, há proximidade. Amarram-se dois homens, que são conduzidos ao juiz: um ladrão e outro igualmente preso. Dois são presos com uma só cadeia, um inocente e outro celerado, e no entanto, estão longe um do outro. Que distância há entre eles? A que existe entre o crime e a inocência. Eis que estes dois estão distantes um do outro. Outro ladrão comete crimes na Espanha; ele está próximo de um que comete crimes na África. Em que grau estão próximos? Na medida em que se unem crime e crime, quanto estão unidos um latrocínio e outro. Ninguém, portanto, tenha medo de estar perto corporalmente de homens malvados. Esteja longe deles pelo coração, e com segurança suportará aquilo que não receia: “Levaram para longe a sua injustiça”. | |
§ 9 | 4 Que acontece? Destacam-se aqueles que dominam iniquamente; e para empregarmos a linguagem vulgar, os iníquos trovejam, exaltam-se inchados de orgulho e com calúnias. E então? Será sempre assim? Não. Escuta como prossegue o salmo: “O Senhor, que é justo, abaterá a cerviz dos pecadores”. V. Caridade dê-me atenção. “O Senhor, que é justo, abaterá a cerviz dos pecadores”. Quem não tremerá? Com efeito, quem não cometeu pecado? “O Senhor, que é justo, abaterá a cerviz dos pecadores”. O tremor penetra no coração de todos os que escutam isto, se acreditam nas Escrituras de Deus. Pois, se os homens por nada batem no peito, mentem os que batem no peito se são justos, e pelo fato mesmo de mentirem a Deus tornam-se pecadores. Se, pois, com verdade batem no peito, são pecadores. E qual de nós não bate no peito? Qual dentre nós não abaixa os olhos, como o publicano, dizendo: “Senhor, tem piedade de mim, pecador”? (Lc 18,13). Se, portanto, todos somos pecadores, e ninguém há sem pecado, todos hão de temer a espada na cerviz, porque “o Senhor, que é justo, abaterá a cerviz dos pecadores”. Não penso, meus irmãos, que se trata de todos os pecadores; mas o membro que é atingido aponta a espécie de pecadores que ele fere. Pois, o salmista não disse: O Senhor justo abaterá a mão dos pecadores; ou: O Senhor justo ferirá os pés dos pecadores. Isso ele não disse. Mas, queria referir-se aos pecadores soberbos, porque, de fato, todos os soberbos têm dura cerviz, uma vez que não somente praticam o mal, mas não querem reconhecê-lo e quando são repreendidos, se justificam. Se alguém lhe diz: Olha. Fizeste isto. Ao menos reconhece o que fizeste. Deus odeia o pecador, por isso, deves também tu aborrecer-te contra ele. Une-te a Deus, e com ele persegue o teu pecado. Ele retruca: Não. Agi bem; Deus é quem agiu mal. Como? Diz: Nada de mal eu fiz; foi Saturno quem fez, foi Marte, foi Vênus; eu nada fiz; foram as estrelas. Tu te justificas e acusas a Deus que fez as estrelas, que ornou o céu. Por conseguinte, justificas teu pecado e te enso-berbeces contra Deus, desculpando-te e inculpando a Deus. Levantaste tua cerviz, e correste contra Deus, conforme está escrito no livro de Jó (atinente ao pecador ímpio): “Investindo contra ele de cabeça curvada, com escudo” (Jó 15,26). Fala de cerviz, porque tu assim te ergues e não abaixas os olhos, nem bates no peito, dizendo: “Senhor, tem piedade de mim, pecador!” Mas, te gabas de teus méritos, diz Deus, e queres pleitear contra mim, levar-me a juízo (cf Jr 2,29), quando devias satisfazer a Deus, por causa de teu reato, e clamar por ele, aquilo que se clama em outro salmo: “Se observares, Senhor, as nossas iniqüidades, quem, Senhor, poderá subsistir”? (Sl 129,3). E o que se clama ainda em outro salmo: “Eu disse: Compadece-te de mim, Senhor, cura a minha alma, porque pequei contra ti” (Sl 40,5). Visto que não queres dizê-lo, mas justificas teus feitos em oposição à palavra de Deus, recairá sobre ti a palavra da Escritura seguinte: “O Senhor, que é justo, abaterá a cerviz dos pecadores”. | |
§ 10 | 5 “Sejam confundidos e recuem todos os que têm ódio a Sião”. Os que odeiam a Sião, odeiam a Igreja, porque Sião é a Igreja. E aqueles que entram na Igreja fingidamente, odeiam a Igreja. Odeiam a Igreja os que não querem observar a palavra de Deus. “Lavraram o meu dorso os pecadores”. Que há de fazer a Igreja senão suportar até o fim? | |
§ 11 | 6 Mas que diz a respeito deles? Continua: “Assemelhem-se ao feno dos telhados, que antes de arrancado já secou”. Feno dos telhados é uma erva que nasce nos telhados, nos terraços cobertos de telhas. Aparece crescido, mas não tem raiz. Como não seria melhor se tivesse nascido mais abaixo e cheio de viço? Mas nasce no alto para secar mais depressa. Não se desenvolveu e já seca. Ainda não se apresentaram ao juízo de Deus, e não têm mais a seiva para se tornarem verdejantes. Observai suas obras e vede que secaram. Mas vivem e estão aqui. Ainda não foram arrancados. Secaram, mas ainda não foram arrancados; são como “o feno dos telhados, que antes de arrancado já secou”. | |
§ 12 | 7 E virão os segadores, mas não enchem com eles as mãos. Pois, os ceifeiros hão de vir e recolher o trigo no celeiro, amarrando o joio e lançando-o ao fogo. Assim também o feno dos telhados é arrancado e tudo o que for tirado dali é lançado ao fogo, porque antes de ser arrancado já secou. Com ele o ceifeiro não enche as mãos. Pois, assim prossegue o salmista: “E não enche as mãos do segador, nem o regaço do que recolhe os feixes. Os ceifeiros são os anjos, diz o Senhor” (Mt 13,39). | |
§ 13 | 8 “E não dizem os transeuntes: A bênção do Senhor venha sobre vós; nós vos abençoamos em nome do Senhor”. Sabeis, irmãos, que ao passar pelos trabalhadores é costume dizer-lhes: “A bênção do Senhor venha sobre vós”. E esse costume era mais arraigado entre os judeus. Ninguém passava e via alguns trabalhando no campo, ou na vinha, ou na messe, ou algo de semelhante sem abençoá-los. Uns são os que recolhem os feixes e outros os que passam pelo caminho. Os que recolhem os feixes, não enchem com eles as mãos, porque não se recolhe no celeiro o feno dos telhados. Quais são os que recolhem os feixes? Os ceifeiros. Quais são os ceifeiros? “Os ceifeiros são os anjos”, diz o Senhor. Quais são os transeuntes? Os que já passaram por este caminho, isto é, os que por esta vida passaram para a pátria. Os apóstolos eram transeuntes nesta vida, os profetas eram transeuntes. Quais foram os que os profetas e os apóstolos abençoaram? Aqueles nos quais eles viram a raiz da caridade. Aqueles que eles encontraram se destacando nos telhados e soberbos com a “cerviz e o escudo”, eles lhes predisseram males, porém não os abençoaram. Por conseguinte, esses maus que a Igreja suporta, conforme lestes nas Escrituras, verificais que são malditos, pertencentes ao anticristo, ao diabo, às palhas, à cizânia. E muitas coisas, são ditas sobre eles nas parábolas: “Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus” (Mt 7,21). Não descobrirás Escritura alguma que fale bem a respeito deles, porque os que passavam pelo caminho não os abençoaram. Os profetas que passaram falaram sobre eles toda espécie de males. Também este profeta que trazemos nas mãos, Davi, passou pelo caminho; ouvistes o que falou acerca deles: “O Senhor, que é justo, abaterá a cerviz dos pecadores. Sejam confundidos e recuem todos os que têm ódio a Sião. Assemelham-se ao feno dos telhados, que antes de arrancado já secou. E não enche as mãos do segador, nem o regaço do que recolhe os feixes”. Foi isso que Davi disse a respeito deles. Ao passar, portanto, não os abençoou, e cumpriu-se por intermédio dele igualmente “o que ele mesmo disse: E não disseram os transeuntes: Nós vos abençoamos em nome do Senhor”. E estes transeuntes, quer sejam os profetas, os patriarcas, ou os apóstolos abençoaram-nos “em nome do Senhor”, a todos nós, irmãos, qualquer um deles. Dizes: Quando Paulo me abençoou? Examina as Escrituras, vê se vives bem, e lá encontras que foste abençoado. Eles abençoaram a todos os que vivem bem. E como abençoaram? “Em nome do Senhor”; não em seu próprio nome como os hereges. Pois aqueles que afirmam: É santo aquilo que nós damos, querem bendizer em seu próprio nome, não no nome do Senhor. Os que dizem, porém: Somente Deus santifica, ninguém é bom a não ser por um dom de Deus, estes bendizem em nome do Senhor, não em seu próprio nome, porque são amigos do esposo e não querem levar a esposa ao adultério. | |