SALMO 𝟭𝟭𝟝

O Senhor tem-se lembrado de nós, abençoar-nos-á; abençoará a casa de Israel;

abençoará a casa de Arão; abençoará os que temem ao Senhor, tanto pequenos como grandes.





ORAÇÃO ⁜ SALMO DA BÍBLIA № 115


§ 115:1  Ɲ Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória, por amor da tua benignidade e da tua verdade.

§ 115:2  Por que perguntariam as nações: Onde está o seu Deus?

§ 115:3  ɱ Mas o nosso Deus está nos céus; ele faz tudo o que lhe apraz.

§ 115:4  Os ídolos deles são prata e ouro, obra das mãos do homem.

§ 115:5  Ŧ Têm boca, mas não falam; têm olhos, mas não vêem;

§ 115:6  ʈ têm ouvidos, mas não ouvem; têm nariz, mas não cheiram;

§ 115:7  ʈ têm mãos, mas não apalpam; têm pés, mas não andam; nem som algum sai da sua garganta.

§ 115:8  Semelhantes a eles sejam os que fazem, e todos os que neles confiam.

§ 115:9  Ƈ Confia, ó Israel, no Senhor; ele é seu auxílio e seu escudo.

§ 115:10  Ƈ Casa de Arão, confia no Senhor; ele é seu auxílio e seu escudo.

§ 115:11  Vós, os que temeis ao Senhor, confiai no Senhor; ele é seu auxílio e seu escudo.

§ 115:12  O Senhor tem-se lembrado de nós, abençoar-nos-á; abençoará a casa de Israel; abençoará a casa de Arão;

§ 115:13  ɑ abençoará os que temem ao Senhor, tanto pequenos como grandes.

§ 115:14  Aumente-vos o Senhor cada vez mais, a vós e a vossos filhos.

§ 115:15  Sede vós benditos do Senhor, que fez os céus e a terra.

§ 115:16  Os céus são os céus do Senhor, mas a terra, deu-a ele aos filhos dos homens.

§ 115:17  Os mortos não louvam ao Senhor, nem os que descem ao silêncio;

§ 115:18  ɲ nós, porém, bendiremos ao Senhor, desde agora e para sempre. Louvai ao Senhor.


O SALMO 115



SERMÃO AO POVO 💬

§ 1
Acredito que é bem notório a V. Santidade o que disse o Apóstolo:

Nem todos têm fé(2 Ts 3,2); e que costuma ser maior a multidão dos infiéis, também não o ignorais; daí a pergunta:

Senhor, quem acreditou em nossa pregação”? (Is 53,1; cf Rm 10,16).

Entre esses enumeram-se os mencionados pelo mesmo Apóstolo:

Procuram atender os seus próprios interesses e não os de Jesus Cristo(Fl 2,21).

Em outro trecho fala que eles pregam a palavra de Deus, não por amor à verdade, mas com segundas intenções, não castamente, isto é, não animados por pura e sincera caridade (cf Fl 1,17).

Seus costumes manifestavam que seus sentimentos diferiam do que eles pregavam, procurando sob um nome santo agradar aos homens; destes ele fala ainda:

Estes tais não servem a Deus, mas ao próprio ventre(Rm 16,18).

Entretanto, permite-lhes anunciar o Cristo. Embora mais acreditassem no que faziam, para sua morte, no entanto pregavam o que serviria para a salvação dos outros que nisso acreditassem, porque eles nada anunciavam fora da regra da fé. A estes rejeita o Apóstolo, dizendo:

Se alguém vos anunciar um evangelho diferente do que vos anunciamos, seja anátema(Gl 1,9).

Não anunciam o Cristo os que anunciam a falsidade, porque Cristo é a verdade (cf Jo 14,6).

Declara que estes anunciam o Cristo, mas não castamente, isto é, com ânimo simples e puro, com fé sincera que opera pela caridade; visando a ambições terrenas, anunciavam o reino dos céus, tendo a falsidade no coração e na língua a verdade. Sabendo o Apóstolo que os fiéis podiam ser libertados, até mesmo pela evangelização de Judas, permitiu que esses evangeli-zassem:

Ou com segundas intenções ou sinceramente Cristo é proclamado(Fl 1,18).

Era, de fato, a verdade que anunciavam, embora não verdadeiramente, isto é, com ânimo sincero. Falam o que não crêem e por isso são reprovados, apesar de serem úteis àqueles que instruem, conforme a palavra do Senhor:

Observai tudo quanto vos disserem. Mas não imiteis as suas ações, pois dizem, mas não fazem(Mt 23,3).

Donde vem isso a não ser porque não acreditam ser útil o que dizem? Existem outros que acreditam, mas não falam do que crêem, por preguiça ou medo. Mesmo aquele servo que conservou o talento, no entanto não o quis empregar, ouviu a sentença do Senhor:

Servo mau e preguiçoso(Mt 25,26).

E em outra passagem do evangelho conta-se que muitos dos príncipes dos judeus acreditaram em Cristo, mas não o confessavam, para não serem expulsos da sinagoga (cf Jo 12,42), mas também eles foram censurados e desaprovados; continua o evangelista:

Pois amaram mais a glória dos homens do que a de Deus(Jo 12,43).

Se, portanto, aqueles que não acreditam na verdade que pregam, e os que não declaram a verdade em que acreditam, são com justiça reprovados, qual o servo que verdadeiramente pode ser chamado fiel, a não ser aquele ao qual se diz:

Muito bem, servo bom e fiel!” Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Vem alegrar-te com o teu senhor”? (Mt 25,21.23).

Tal servo, por conseguinte, não fala a não ser que acredite, nem cala depois que acreditou; ou, não dá o que perderia, nem guarda o que perderá por não empregar. Pois assim foi dito:

Pois àquele que tem, lhe será dado, mas ao que não tem, mesmo o que tem lhe será tirado(Mt 13,12).



§ 2
10/1 Diga, então, este bom servo que canta “Aleluia”, isto é, que sacrifica ao Senhor um sacrifício de louvor e que ouvirá dele:

Vem alegrar-te com o teu Senhor”, exulte e diga:

Eu acreditei por isso falei”, isto é, acreditei perfeitamente. Ora, não acreditam perfeitamente aqueles que não querem falar do que crêem. Pertence à fé igualmente dar adesão à palavra:

Todo aquele, portanto, que se declarar por ele diante dos homens, também eu me declararei por ele diante dos anjos de Deus(Mt 10,32).

Foi denominado fiel aquele servo, não tanto porque recebeu, mas porque empregou e lucrou (cf Mt 25,21.23).

Assim, também aqui, o salmista não disse: Acreditei e falei; mas: falou porque acreditou. Acreditou de igual maneira que prêmio devia esperar falando, e que pena devia temer calando.

Eu acreditei por isso falei. Eu, porém, fui em extremo humilhado”.

Sofreu muitas tribulações, por causa da palavra que sustentava fielmente, fielmente distribuía, e foi em extremo humilhado; porque os outros tiveram medo de fazê-lo; “amaram mais a glória dos homens do que a de Deus(Jo 12,43).

Mas, que significa:

Eu, porém?” Devia dizer antes: Acreditei, por isso falei e fui em extremo humilhado; por que acrescentou:

Eu, porém?” Seria porque pode ser humilhado um homem por parte daqueles que contradizem, mas não a própria verdade que crê e fala? Daí provém que também o Apóstolo, ao se referir a suas cadeias, disse:

Mas a palavra de Deus não está algemada”! (2 Tm 2,9).

Assim fala também este, que personifica as santas testemunhas, isto é, os mártires de Deus:

Acreditei por isso falei. Eu, porém”, não o objeto de minha fé, não a palavra que proferi, mas “eu, fui em extremo humilhado”.



§ 3
11/2 “No meu arroubo eu disse: Todo homem é mentiroso”.

Chama de arroubo o pavor que sente a fraqueza humana diante das ameaças dos perseguidores e da iminência dos tormentos da paixão e da morte. Entendemos assim porque neste salmo aparece a voz dos mártires. Há outra maneira de entender o arroubo, isto é, quando a mente não é arrebatada de pavor, mas é tomada por alguma revelação ou inspiração.

No meu arroubo eu disse: Todo homem é mentiroso”.

Aterrado olhou para sua fraqueza, e viu que não podia contar consigo mesmo. Quanto ao que se refere ao próprio homem, ele é mentiroso; mas pela graça de Deus se tornou veraz, a fim de não ce-der às instâncias dos inimigos, falando o que não acreditava e negando, conforme aconteceu a Pedro, porque presumira de si mesmo e devia aprender que um homem não há de presumir de outro homem. E se um homem não deve presumir de outro, nem pode presumir de si, porque também é homem. Foi com exatidão, pois, que o salmista viu em seu arroubo que todo homem é mentiroso; mesmo os que não são tomados de pavor, não cedem mentindo aos perseguidores, assim se mantêm por um dom de Deus e não por suas próprias forças. Conse-qüentemente, foi dito com toda verdade:

Todo homem é mentiroso”; mas é veraz Deus, que disse:

Eu disse: Vós sois deuses e sois todos filhos dos Altíssimo. Morrereis todavia como homens e caireis como um príncipe qualquer(Sl 81,6).

Deus consola os humildes, e enche-os não somente da fé para acreditarem, mas ainda da ousadia de pregarem a verdade, se eles se submetem com perseverança a Deus e não imitam o diabo, um dos príncipes, que não permaneceu na verdade e caiu. Se, pois, todo homem é mentiroso, serão tanto menos mentirosos quanto não forem homens, porque serão deuses e filhos do Altíssimo.



§ 4
12/3 Considera o devotíssimo povo dos testemunhos fiéis como a misericórdia de Deus não abandona a fraqueza humana, que disse cheia de pavor:

Todo homem é mentiroso”; considera como ele consola os humildes, e enche os hesitantes do espírito de ousadia, de tal modo que revivam os que estavam quase espiritualmente mortos, e não confiem em si mesmos e sim naquele que ressuscita os mortos e torna eloqüente a voz dos pequeninos (cf 2Cor 1,9; Sb 10,21), e que disse:

Quando vos entre-garem, não fiqueis preocupados em saber como ou o que haveis de falar. Naquele momento vos será indicado o que deveis falar, porque não sereis vós que estareis falando, mas o Espírito de vosso Pai é que falará em vós(Mt 10,19.20).

Considera tudo isso o salmista que dissera:

No meu arroubo eu disse: Todo homem é mentiroso” e verificando que pela graça do Senhor ele se tornou veraz, pergunta:

com que retribuirei ao Senhor por tudo com que me retribuiu?” Ele não disse: Por tudo que me concedeu, mas por tudo com que me retribuiu. Que fizera antes o homem para que não se chamasse atribuição a concessão dos dons de Deus, e sim retribuição? Que precedera senão os pecados? Por conseguinte, Deus retribuiu o mal com o bem, enquanto os homens lhe retribuem o bem com o mal. Foi assim que retribuíram aqueles que disseram:

Este é o herdeiro: vamos! Matemo-lo(Mt 21,38).



§ 5
13/4 15/6 Mas procura o salmista com que retribuir ao Senhor e não encontra, a não ser com o que o Senhor mesmo lhe retribui. Diz:

Tomarei o cálice da salvação e invocarei o nome do Senhor”.

1 Ó homem, mentiroso por causa de teu pecado, veraz por dom de Deus, e portanto, já não sendo somente homem, quem te deu o cálice da salvação que tomas, invocando o nome do Senhor para retribuir-lhe por tudo com que te retribui? Quem, senão aquele que perguntou:

Podeis beber o cálice que estou para beber”? (Mt 20,22).

Quem te deu a possibilidade de imitar seus sofrimentos senão aquele que primeiro padeceu por ti? Portanto, “preciosa na presença do Senhor é a morte de seus justos”.

Comprou-a com seu sangue, que derramou primeiro em prol da salvação de seus servos, a fim de que estes não hesitassem em derramar o seu pelo nome do Senhor; no entanto, seria para seu proveito e não para utilidade do Senhor.



§ 6
16/7 Confesse, portanto, sua condição o escravo comprado por tão grande preço e diga:

Ó Senhor, sou teu servo e filho de tua serva”.

Por conseguinte foi comprado e é escravo. Acaso foi comprado simultaneamente com sua mãe? Ou seria escravo, preso por causa do pecado de sua fuga, e por isso comprado, redimido? Pois é filho da escrava segundo a submissão devida ao Criador por toda criatura, e compete-lhe um serviço verdadeiro ao verdadeiro Senhor. A criatura que o presta é livre, recebendo dele a graça de servi-lo não por necessidade, mas voluntariamente. Portanto, é filho da Jerusalém celeste, que é do alto, livre, mãe de todos nós (cf Gl 4,26).

Diz-se a seus filhos ainda peregrinos:

Vós fostes chamados à liberdade(Gl 5,13); e novamente os apresenta como escravos, dizendo:

Pela caridade, ponde-vos a serviço uns dos outros”; a estes diz-se ainda:

Quando éreis escravos do pecado, estáveis livres em relação à justiça. Mas agora, libertos do pecado e postos a serviço de Deus, tendes vosso fruto para santificação, e como desfecho, a vida eterna(Rm 6,20-22).

Diga, portanto, este servo a Deus: Muitos dizem que são mártires, muitos que são teus servos, porque usam teu nome várias heresias e erros; mas como estão fora de tua Igreja, não são filhos de tua serva. Eu, porém, “sou teu servo e filho de tua serva”.



§ 7
17/8 “Rompeste as minhas cadeias. Eu te sacrificarei uma hóstia de louvor”.

Ao romperes as minhas cadeias, não encontrei mérito algum em mim mesmo, por isso, devo-te um sacrifício de louvor. Mesmo que me glorie de ser teu servo e filho de tua serva, não me gloriarei em mim mesmo, mas em ti, meu Deus, que rompeste as minhas cadeias, de tal sorte que voltando depois da fuga, me unisse novamente a ti.



§ 8
18/9 “Cumprirei os meus votos ao Senhor”.

Que votos cumprirás? Quais as vítimas que prometeste? Qual o incenso? Qual o holocausto? Será que te referes ao que pouco acima mencionaste:

Tomarei o cálice da salvação e invocarei o nome do Senhor?” Efetivamente todo aquele que pensar bem no que há de prometer ao Senhor e de cumprir, prometa a si mesmo e cumpra o voto, dando-se a si mesmo. É isto que se exige, que se deve. O Senhor ao olhar a moeda diz:

Devolvei o que é de César a César, e o que é de Deus, a Deus(Mt 22,21).

Devolve-se a César a sua imagem; seja devolvida a Deus a sua.



§ 9
19/10 Mas quem se lembrar de que não é somente servo de Deus, mas também filho da serva de Deus, verá onde deve cumprir seus votos, assemelhando-se a Cristo por meio do cálice da salvação. Diz o salmo:

Nos átrios da casa do Senhor”.

Casa de Deus é sua serva; qual a casa de Deus, senão todo o seu povo? Por isso, continua o salmo:

na presença de todo o seu povo”.

E logo mais claramente nomeia a própria mãe. Pois, que é seu povo senão o seguinte:

No meio de ti, ó Jerusalém?” Então se devolve o que é agradável a Deus: devolve-se o que vem da paz e na paz. Aqueles que não são filhos desta serva, amaram mais a guerra do que a paz. Para evitar que alguém julgue representarem os átrios da casa do Senhor e todo o seu povo os judeus, porque o salmo termina com as palavras:

No meio de ti, ó Jerusalém”, nome de que se gloriam os israelitas carnais, ouvi o salmo seguinte, que contém quatro versículos: 1 Santo Agostinho omite o versículo 14 (5) da Vulgata; este v. também falta nos LXX. SALMO2 116 “Nações, louvai todas ao Senhor. Louvai-o todos os povos”.

São estes os átrios do Senhor, este seu povo, esta a verdadeira Jerusalém. Ouçam de preferência os que não quiseram ser cidadãos desta cidade, quando se afastaram da comunhão de todos os povos.

Porque se confirmou sobre nós a sua misericórdia e a verdade do Senhor perdura eternamente”.

A misericórdia e a verdade, dois pontos que recomendei fossem guardados na memória, ao comentar o salmo centésimo décimo terceiro3. Foi confirmada sobre nós “a misericórdia” do Senhor quando as bocas raivosas das nações inimigas se fecharam diante de seu nome, que nos libertou; “e a verdade do Senhor perdura eternamente”, tanto no que prometeu aos justos, quanto no que ameaçou aos ímpios. 2 É continuação do salmo precedente. 3 Cf, Com s/Sl 93, sermão 1,13