SALMO 𝟭𝟭𝟚

Aos retos nasce luz nas trevas; ele é compassivo, misericordioso e justo.

Ditoso é o homem que se compadece, e empresta, que conduz os seus negócios com justiça; pois ele nunca será abalado; o justo ficará em memória eterna.





ORAÇÃO ⁜ SALMO DA BÍBLIA № 112


§ 112:1  Ł Louvai ao Senhor. Bem-aventurado o homem que teme ao Senhor, que em seus mandamentos tem grande prazer!

§ 112:2  A sua descendência será poderosa na terra; a geração dos retos será abençoada.

§ 112:3  Bens e riquezas há na sua casa; e a sua justiça permanece para sempre.

§ 112:4  Aos retos nasce luz nas trevas; ele é compassivo, misericordioso e justo.

§ 112:5  Ɗ Ditoso é o homem que se compadece, e empresta, que conduz os seus negócios com justiça;

§ 112:6  pois ele nunca será abalado; o justo ficará em memória eterna.

§ 112:7  Ele não teme más notícias; o seu coração está firme, confiando no Senhor.

§ 112:8  O seu coração está bem firmado, ele não terá medo, até que veja cumprido o seu desejo sobre os seus adversários.

§ 112:9  Espalhou, deu aos necessitados; a sua justiça subsiste para sempre; o seu poder será exaltado em honra.

§ 112:10  O ímpio vê isto e se enraivece; range os dentes e se consome; o desejo dos ímpios perecerá.


O SALMO 112



SERMÃO AO POVO 💬

§ 1
1.3 Bem o sabeis, irmãos, e com freqüência ouvistes dizer do evangelho do Senhor:

Deixai as crianças e não as impeçais de virem a mim, pois delas é o reino dos céus”, e ainda:

Aquele que não receber o reino de Deus como uma criança, não entrará nele(Mt 19,14; 18,3; Mc 10,14.15).

Em muitas outras passagens nosso Senhor, empregando singular exemplo de humildade, acusa a soberba do velho homem procurando renovar-lhe humildemente a vida, à semelhança da infância. Por esta razão, caríssimos, ao ouvirdes cantar nos salmos:

Louvai, meninos, ao Senhor”, não penseis que esta exortação não vos pertence, porque já tendo ultrapassado a infância corporal, estais no belo vigor juvenil, ou com cãs honrosas da velhice; a todos vós diz o Apóstolo:

Quanto ao modo de julgardes, não sejais como crianças; quanto à malícia, sim, sede crianças, mas, quanto ao modo de julgar, sede adultos(1 Cor 14,20).

De que malícia trata especialmente, senão da soberba? Esta, presumindo de uma grandeza vã não deixa o homem trilhar o caminho estreito, e entrar pela porta estreita. Uma criança facilmente entra por um lugar estreito; portanto, ninguém, se não for criança, entrará no reino dos céus. Que pode haver de pior do que a malícia da soberba, que ninguém quer acima de si, nem Deus? Pois está escrito:

O princípio do orgulho é o afastar-se de Deus(Eclo 10,12).

Derrubai, quebrai, esmigalhai e consumi este orgulho que se levanta contra os preceitos divinos com cerviz endurecida e resiste ao suave jugo do Senhor, e “louvai, meninos, ao Senhor, louvai o nome do Senhor”.

Prostrada e extinta a malícia da soberba, das bocas das crianças e lactentes se tira um louvor perfeito (cf Sl 8,3); contida e apagada a soberba, aquele que se gloria, se glorie no Senhor (cf 1Cor 1,31).

Não cantam essas palavras os que se consideram grandes; não cantam os que, conhecendo a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças. Louvam a si mesmos e não a Deus, porque não são meninos. Preferem seja anunciado seu próprio nome, e não louvam o nome do Senhor. Em conseqüência, dissiparam-se em seus pensamentos e seu coração insensato se obscureceu; dizendo-se sábios, tornaram-se estultos (cf Rm 1,21.22).

Quiseram se tornasse famoso longa e largamente o seu nome, enquanto logo eles mesmos cairiam em angústias. Sempre e em toda a parte convém anunciar Deus, o Senhor. Sempre, portanto, se anuncie:

Seja bendito o nome do Senhor, desde agora e pelos séculos”.

Em toda a parte se apregoe:

Desde o nascente ao poente, louvai o nome do Senhor”.



§ 2
Pode perguntar-me algum dos santos meninos que louvam o nome do Senhor e dizer-me: Entendo que “pelos séculos” significa: eternamente. Por que, então, “desde agora”, e não antes disso e antes de todos os séculos “seja bendito o nome do Senhor?” Respondo ao pequenino, que não pergunta com contumácia: O salmo vos diz, senhores e crianças, vos diz:

Louvai o nome do Senhor. Seja bendito o nome do Senhor”.

Bendizei o nome do Senhor, “desde agora”, a saber, do momento em que vos é ordenado. Começastes a louvar, louvai sem fim.

Desde agora”, portanto, “e pelos séculos”, louvai sem fim. Não digais: De fato, começamos a louvar ao Senhor, porque somos meninos; mas quando crescermos e formos adultos, louvar-nos-emos a nós mesmos. Não façais isto, meninos, não façais. Por isso, o Senhor fala por meio de Isaías:

Eu sou; até a vossa velhice continuo o mesmo(Is 46,4).

Seja louvado sempre aquele que é.

Louvai, meninos, desde agora”, louvai, velhos, “pelos séculos”.

Vossa velhice terá as cãs da sabedoria, mas não as rugas do envelhecimento corporal. Talvez representa neste lugar a infância antes a humildade, porque a falsa e vã grandeza do orgulho lhe é contrária. Assim, só os meninos louvam o Senhor, porque os soberbos não sabem louvá-lo. Seja vossa velhice infantil e a infância senil, isto é, nem vossa sabedoria seja acompanhada de orgulho, nem a humildade seja desprovida de sabedoria, a fim de louvardes ao Senhor “desde agora e pelos séculos”.

Por toda parte em que a Igreja de Cristo se difunde nas crianças santas, “Louvai o nome do Senhor”; isto é, “desde o nascente ao poente, louvai o nome do Senhor”.



§ 3
4 “Excelso é o Senhor sobre todas as nações”.

As nações constam de homens. É de admirar que o Senhor seja excelso sobre os homens? Adoram seres excelsos sobre si mesmos aqueles que com seus olhos vêem brilhar no céu o sol, a luz e as estrelas; servem a essas criaturas, abandonando o Criador. Mas, não somente “excelso é o Senhor sobre todas as nações”, mas ainda ”acima dos céus eleva-se a sua glória”.

Os céus o contemplam acima de si e os humildes, que não adoram o céu em lugar de Deus, postos segundo a carne abaixo do céu, o possuem consigo.



§ 4
5.6 “Quem é semelhante ao Senhor nosso Deus, que habita nas alturas, mas vê o que é humilde?” Alguém poderia pensar que habita nas alturas dos céus e de lá vê o que é humilde na terra; mas ele “vê o que é humilde no céu e na terra”.

Em que altura então habita para de lá ver o que é humilde no céu e na terra? Ou nas alturas em que habita também vê as coisas humildes? Pois ele de tal modo exalta os humildes que não os torna soberbos. Por conseguinte, habita também nas alturas que ele exalta e transforma para si em céu, isto é, em seu trono. Vendo-os, não orgulhosos, mas sempre submissos, também no próprio céu vê humildes, e habita nesses excelsos. Pois, o Espírito assim fala por intermédio de Isaías:

Assim diz aquele que está nas alturas, em lugar excelso, cujo nome é eterno, Senhor Altíssimo que repousa nos santos”.

Expõe o que havia dito:

em lugar excelso”; explica melhor:

repousa nos santos”.

Mas quem são os santos senão os humildes, os meninos que louvam ao Senhor? Por isso acrescenta:

Dou magnanimidade aos abatidos, e vida aos corações humildes(Is 57,15).

Esses santos nos quais repousa, a estes pusilânimes dá magnanimidade. Com efeito, dando magnanimidade torno-os excelsos; repousando neles habita nas alturas. Mas como dá magnanimidade aos pusilânimes, aos excelsos em quem habita, ele vê os humildes.

Vê o que é humilde no céu e na terra”.



§ 5
O Senhor nosso Deus nos incita a procurar se são as mesmas coisas que são humildes no céu e na terra; ou se ele vê umas coisas humildes no céu e outras na terra. Se são as mesmas, vejo como entendê-las, de acordo com o que diz o Apóstolo:

Embora vivamos na carne, não militamos segundo a carne. Na verdade, as armas com que combatemos não são carnais, mas têm, ao serviço de Deus, poder(2 Cor 10,3.4).

De onde vem o poder, senão porque são espirituais? Se, portanto, o Apóstolo vive na carne e milita espiritualmente, não é de admirar se sua humildade é vista no céu por causa da liberdade do espírito, e na terra por causa da servidão corporal. Efetivamente, ele diz em outra passagem:

Mas a nossa cidade está nos céus(Fl 3,20); também o mesmo afirma:

Partir e ir estar com Cristo, isso me é muito melhor, mas o permanecer na carne é mais necessário por vossa causa(Fl 1,23.24).

Em conseqüência disso, quem entende que a cidadania do Apóstolo estava no céu, e que corporalmente ele habitava na terra, simultaneamente há de compreender como o Senhor nosso Deus, que habita nos santos nas alturas, vê os mesmos santos humildes diante de si no céu, porque pensam nas coisas do alto (cf Cl 3,1) aqueles que em esperança ressuscitaram com Cristo; e ele os vê na terra igualmente, porque ainda não se libertaram do vínculo da carne, de tal forma que toda a sua vida possa estar com Cristo. Se, porém, o Senhor nosso Deus vê no céu umas coisas humildes e outras na terra, acredito que já olha no céu aqueles que ele chamou e nos quais ele habita; na terra, contudo, considera aqueles que ele chama para habitar neles. Aos que pensam nos bens celestes ele os possui; e aos que sonham com bens terrenos ele os desperta.



§ 6
Mas como é difícil chamar de humildes os que ainda não submeteram o pescoço ao suave jugo do Senhor, pois as divinas Escrituras através do texto de todo o salmo nos adverte a entendermos a respeito dos santos os humildes mencionados neste lugar, existe outro sentido, que V. Caridade pode considerar comigo. Julgo que aqui são apresentados como sendo céus aqueles que se sentarão sobre doze tronos e julgarão com o Senhor (cf Mt 19,28); sob o nome de terra designa-se a restante multidão dos homens benditos, que estarão colocados à direita, a fim de que, recomendáveis por causa das obras de misericórdias, sejam recebidos nos tabernáculos eternos, pois adquiriram nesta vida mortal amigos com as riquezas da iniqüidade (cf Lc 16,9).

A estes pergunta o Apóstolo: ‘Se semeamos em vosso favor os bens espirituais, será excessivo que colhamos os vossos bens materiais?” (1 Cor 9,11).

Ou em outras palavras: Se semeamos em vosso favor bens celestes, será excessivo que colhamos os vossos bens terrenos? O Senhor, portanto, vê no céu os que semeiam bens celestes, na terra os que colhem bens terrenos; no entanto são humildes uns e outros. Pois, “ele vê o que é humilde no céu e na terra”, uma vez que se lembram ambos do que foram por sua malícia, e o que se tornaram pela graça do Senhor. Não é apenas a eles que diz o Vaso de eleição:

Outrora éreis treva, mas agora sois luz no Senhor(Ef 5,8), e ainda:

Pela graça fostes salvos, por meio da fé, e isso não vem de vós, é o dom de Deus: não vem das obras, para que ninguém se encha de orgulho”.

Incluiu-se a si mesmo na seqüência, dizendo:

Pois somos criaturas suas, criados para as boas obras”.

Fala também separadamente de si e daqueles que são vistos no céu:

Éramos como os demais, filhos da ira (Ef 2,3-10).

E ainda:

Também nós antigamente éramos insensatos e incrédulos, extraviados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo em malícias e inveja, odiados pelos homens e odiando-nos uns aos outros. Mas quando a bondade e o amor de Deus, nosso Salvador, se manifestaram, ele salvou-nos, não por causa dos atos justos que houvéssemos praticado, mas porque, por sua misericórdia fomos lavados por seu poder regenerador(Tt 3,3-5).

Eis as coisas humildes que se vêem nos céus. Pois são espirituais e julgam todas as coisas; são, contudo, humildes, para não serem rejeitados e julgados. Que há de peculiar ao Apóstolo? Não será o que ele menciona? Diz:

Nem sou digno de ser chamado apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus. Mas obtive misericórdia, porque agi por ignorância, na incredulidade(1 Cor 15,9; 1Tm 1,13).



§ 7
7.9 Enfim, após estes versículos, nos quais fala o Espírito neste salmo:

Quem é semelhante ao Senhor nosso Deus, que habita nas alturas, mas vê o que é humilde no céu e na terra”, o salmista querendo nos ensinar por que fala de coisas humildes no céu, tendo por essas expressões indicado os que já são grandes, espirituais e dignos dos tronos de juízes, logo acrescenta:

Ele levanta do pó o indigente e do estrume ergue o pobre, para colocá-lo entre os príncipes com os príncipes de seu povo”.

Não desdenham, portanto, serem cabeças humildes nas alturas, sob a direita do Senhor. Seja embora colocado como fiel dispensador dos bens do Senhor no meio dos príncipes do povo de Deus, embora deva se sentar num dos doze tronos e julgar até os anjos, é do pó que se levanta o indigente e do estrume que é erguido o pobre. Por acaso não foi erguido do estrume aquele que era escravo de vários desejos e prazeres? Mas talvez ao dizer isto, já não fosse indigente e pobre. Por que ainda geme oprimido, desejando revestir por cima da morada terrestre a habitação celeste? Por que, a fim de não se encher de soberba, foi-lhe dado um aguilhão na carne, um anjo de satanás que o espancava? (cf 2Cor 5,2; 12,7).

Com efeito, está no alto, porque Deus nele habita, e tem aquele Espírito que sonda todas as coisas, até mesmo as profundidades de Deus (cf 1Cor 2,10); portanto, está no céu; mas também no céu o Senhor vê o que é humilde.



§ 8
Então, irmãos, se já ouvimos o que respeita às coisas humildes que estão no céu, erguidas do estrume, a fim de serem colocadas com os príncipes do povo, nada, por conseguinte, ouvimos acerca das coisas humildes que o Senhor vê na terra? De fato, poucos são os amigos do Senhor que hão de julgar com ele; muito mais os que estes amigos recebem nos tabernáculos eternos. Embora todo o monte de trigo pareça pouco em comparação com a palha separada, considerado em si mesmo é abundante.

Mais numerosos são os filhos da abandonada do que os filhos de uma esposa(Is 54,1); mais numerosos os filhos daquela que pela graça concebeu na velhice, do que os daquela que em idade juvenil se ligou pelo vínculo matrimonial. Digo, na verdade, que concebeu na velhice, considerando Sara, nossa mãe, com o único filho Isaac, mãe dos fiéis de todos os povos. Vede a mãe que se encontra em Isaías; parece que não é a mãe absolutamente, nem tenha dado alguém à luz. E no entanto que se lhe diz? “Os teus filhos, de que foste privada, ainda dirão aos teus ouvidos: O espaço é muito estreito para nós, arranja-nos lugar para que tenhamos onde morar. Então dirás no teu coração: Quem deu à luz todos estes? Pois eu estava sem filhos e viúva. Quem os criou? Eu tinha sido deixada só. Onde, então, estavam estes?(Is 49,20.21).

A Igreja assim fala, em nome daquela parte a que parece nada disso tocar, constituída das multidões que não abandonaram tudo para seguir o Senhor e que não hão de sentar nos doze tronos. Mas quantos deles adquirem amigos com as riquezas da iniqüidade, por meio das obras de misericórdia e estarão à direita? Portanto, o Senhor não somente os ergue do estrume para os colocar entre os príncipes de seu povo, mas ainda “faz habitar a estéril em casa, mãe e feliz com seus filhos”, ele que habita nas alturas, e vê o que é humilde no céu e na terra, a descendência de Abraão como as estrelas do céu, santidade sublime colocada nos tronos celestes, e como a areia na praia do mar, multidão misericordiosa e inumerável, separada da amargura dos ímpios e das ondas sinistras.